O protesto, promovido por sindicatos e associações, decorreu às portas do Centro de Congressos de Lisboa, onde hoje termina o encontro Ciência 2018, um evento que junta investigadores, empresas e políticos em torno da discussão de temas e desafios científicos.

"Heitor e Ferrão: não queremos mais exploração!" e "Heitor e Ferrão: queremos carreiras de investigação" eram duas das frases que titulavam alguns dos cartazes exibidos na concentração, numa referência ao ministro da Ciência, Manuel Heitor, e ao presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Paulo Ferrão.

À Lusa, João Pedro Ferreira, bolseiro de pós-doutoramento e vice-presidente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, justificou o protesto com "o desagrado pelas expectativas criadas" com a legislação de estímulo ao emprego científico e o programa de regularização de vínculos laborais precários do Estado.

Segundo o dirigente e investigador, apenas "uma parte residual" de cientistas com bolsa foi contratada, com as instituições "a boicotarem" o processo e o Governo "a pactuar" com a situação.

João Pedro Ferreira lembrou que num encontro como o Ciência 2018, onde se faz "o balanço" da ciência produzida em Portugal, esse trabalho "tem sido feito pela precariedade" dos investigadores.

Ana Margarida Ricardo, bolseira do Instituto Superior Técnico, queixou-se da resistência das instituições científicas que "continuam a não abrir os concursos" para a contratação de investigadores-doutorados, que "acumulam bolsas há muitos anos".

Luís Miguel Marado, investigador no desemprego, foi ao protesto para "lutar pela ciência", pelos seus "recursos humanos", pela "regularização do seu funcionamento", pela "estabilidade laboral".

Sem bolsa nem contrato, aguarda pelos resultados do concurso de contratação individual de investigadores-doutorados, que o presidente da FCT, Paulo Ferrão, prometeu para julho, em declarações à Lusa horas antes da concentração.

Os bolseiros prometiam marcar presença na última sessão plenária do Ciência 2018, que será encerrada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, repetindo um gesto feito na terça-feira numa sessão concluída pelo primeiro-ministro, António Costa.

O protesto de hoje foi coorganizado por Associação de Bolseiros de Investigação Científica, Sindicato Nacional do Ensino Superior, Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, entre outros.

"É um filme que conheço bem", diz Marcelo

Em frente ao Centro de Congressos de Lisboa, onde decorre o encontro "Ciência 2018", os cerca de cem manifestantes formaram duas filas, aguardando a chegada de Marcelo Rebelo de Sousa, mas o chefe de Estado saiu do carro um pouco mais à frente.

Alguns deles dirigiram-se então a Marcelo Rebelo de Sousa e abordaram-no quando este caminhava para a entrada do edifício, entregando-lhe documentação sobre a situação como bolseiros de investigação científica em Portugal, enquanto ao fundo os outros manifestantes gritavam "contratos, sim, bolsas não".

"Boa tarde, senhor Presidente, nós somos bolseiros de investigação científica. Estamos há muitos anos a trabalhar como bolseiros de investigação e merecemos um contrato", queixaram-se.

"Então, não sei? Eu sei, eu conheço o problema, como imaginam", foi a resposta do chefe de Estado, que continuou a andar até à porta do Centro de Congressos de Lisboa.

Numa curta conversa, sempre em andamento, os bolseiros alegaram que "as instituições e a tutela estão a boicotar" a regularização da sua situação e pediram ao Presidente da República que, "dentro da sua magistratura," tente intervir.

Já no interior do edifício, enquanto subia as escadas, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: "É um filme que eu conheço bem".