A bióloga especialista em conservação e o economista são ambos pioneiros em esclarecer e quantificar o valor económico do ambiente natural.
“O Comité Executivo do Prémio Tyler tem a honra de reconhecer duas destacadas figuras que foram pioneiras na valorização do capital natural - em termos científicos e económicos rigorosos - reconhecendo o papel vital da natureza no apoio ao bem-estar humano”, disse Júlia Marton-Lefèvre, presidente do Prémio Tyler.
Em maio de 2019 a ONU alertava num relatório para a perda devastadora da biodiversidade, frisando que é inviável continuar a procurar crescimento económico sem olhar para a natureza. A questão tem, no entanto, sido tema de alertas há anos por parte de Gretchen Daily, 55 anos, professora na Universidade de Stanford, Estados Unidos.
“Podemos pensar nos ecossistemas como um tipo de ativo de capital. Assim como temos ativos como capital humano, ou capital financeiro, também temos capital natural”, disse a bióloga, acrescentando que os humanos dependem totalmente do capital natural vivo, das terras, águas e biodiversidade do planeta, que estão “a liquidar de forma acelerada”.
O trabalho inovador de Gretchen Daily, prevendo mudanças na biodiversidade e fazendo estimativas dos valores dos ecossistemas e dos serviços que prestam, começou quando a bióloga ainda era estudante de doutoramento.
Num livro publicado em 1997, “Nature´s Services: Societal Dependence on Natural Ecosystems” (Serviços de Natureza: Dependência da sociedade dos ecossistemas naturais) Gretchen Daily resumiu os muitos serviços fornecidos pela natureza.
Em 2005 cofundou o projeto NatCap (Projeto Capital Natural), um programa internacional para motivar mais investimentos nos ecossistemas e para capacitar os decisores para o crescimento verde.
Pavan Sukhdev, cidadão indiano de 59 anos, liderou um estudo (publicado em 2008) sobre os benefícios económicos da biodiversidade e os custos da sua degradação e perda que se tornou uma referência, vindo a ser a base para o movimento da Economia Verde, que defende a redução de riscos ambientais e o desenvolvimento sustentável.
“Não é preciso ser um ambientalista para ter preocupações de proteção do ambiente. Basta perguntar a um agricultor, que agora precisa de alugar colmeias para polinizar as suas sementeiras, porque já não há abelhas suficientes na natureza para fazerem esse trabalho. Mas as abelhas não enviam faturas, portanto o valor dos seus serviços não é reconhecido”, disse Sukhdev, para explicar a invisibilidade económica da natureza.
Antigo diretor administrativo do Deutsche Bank (banco alemão), profissional dos mercados financeiros durante 25 anos, Sukhdev foi pioneiro a colocar as consequências do declínio ambiental na terminologia financeira e de negócios, revolucionando a maneira como os que tomam decisões olham para o mundo natural.
Após anos desafiando as empresas a fazer a transição para uma economia sustentável, Sukhdev fundou a GIST Advisory, uma rede de consultoria em sustentabilidade.
Em 30 de abril os dois premiados vão fazer uma apresentação pública do seu trabalho na Academia de Ciências de Nova Iorque.
Numa cerimónia privada, marcada para 01 de maio, o Comité Executivo do Prémio Tyler e personalidades da comunidade internacional ligadas ao ambiente vão homenagear os dois laureados.
O Prémio Tyler é de 200 mil dólares, a serem divididos pelos dois.
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