“Acho que este é um belíssimo exemplo de que os conhecidos afetos daquele que atualmente ocupa o cargo de Presidente da República foram muito mal distribuídos. É o exemplo de uma classe profissional para a qual, claramente, faltaram afetos ao longo destes anos”, disse à agência Lusa o candidato apoiado pelo PCP e pelo PEV, depois de uma reunião com a Federação Nacional dos Professores, em Lisboa.
O também eurodeputado comunista e elemento do Comité Central do partido considerou que esta falta de “afetos numa dimensão simbólica” imputada a Marcelo Rebelo de Sousa foi acompanhada pela carência na “valorização da profissão de professor”, assim como no “combate à enorme precariedade que ainda prevalece” nesta profissão.
“Há situações muito complicadas, conheço bem, até fruto das funções que tenho em Lisboa como vereador. Conheço bem a situação de Lisboa e das escolas de Lisboa”, acrescentou João Ferreira, considerando que “é inaceitável” que ainda houvesse alunos sem professores a várias disciplinas no final do primeiro período.
Por isso, o candidato garantiu que “no exercício alternativo dos poderes de Presidente da República” proposto pela sua candidatura, haverá “um lugar central” para a “valorização do trabalho, dos trabalhadores”, nos quais estão incluídos os professores.
Reconhecendo que ao Presidente da República não compete “diretamente encontrar as soluções” para as reivindicações dos professores, o comunista advogou que “a sua intervenção pública” e o “modo como influencia” outros órgãos de soberania, nomeadamente o Governo, liderado pelo socialista António Costa, tem de ser utilizado para “defender essa necessária” valorização dos professores.
Questionado também sobre a renovação do estado de emergência decorrente da pandemia, proposta por Marcelo Rebelo de Sousa e que vai ser debatido e votado hoje à tarde na Assembleia da República, João Ferreira não descartou utilizar este mecanismo se for eleito Presidente da República, porque o atual contexto pandémico “é preocupante” e é “difícil prever a evolução nas próximas semanas”.
Contudo, para o candidato a utilização deste mecanismo tem de ser acompanhada por “medidas de emergência”, nomeadamente “no plano do reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
“Neste momento o que se impõe é a adoção dessas medidas de emergência, para as quais, sublinho, o estado de emergência em nada tem contribuído”, completou.
No final desta reunião, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, Mário Nogueira, reconheceu que “algo ficou para fazer” durante o último mandato presidencial, e apesar de reconhecer que o chefe de Estado não prejudicou as reivindicações dos professores, estes profissionais sentiram-se “pouco acompanhada, não só da parte do Governo, para não dizer abandonados, mas também de outros órgãos de soberania, incluindo a própria Presidência da República”.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral decorre entre 10 e 22 de janeiro, com o país a viver sob medidas restritivas devido à epidemia. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
Desde 1976, foram Presidentes António Ramalho Eanes (1976-1986), Mário Soares (1986-1996), Jorge Sampaio (1996-2006) e Cavaco Silva (2006-2016). O atual chefe de Estado, eleito em 2016, é Marcelo Rebelo de Sousa, que se recandidata ao cargo.
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