"O senador [Marcos do Val] solicitou uma reunião comigo" e o "que ele me disse foi que o deputado Daniel Silveira", aliado do ex-Presidente Bolsonaro, tinha tido a "ideia genial" de colocar escutas para "poder gravar conversas" alegadamente comprometedoras, disse Alexandre de Moraes, numa intervenção, por teleconferência, num colóquio em Lisboa, organizado pelo Lide Brasil.

"Eu conversei três vezes com esse senador" e os seus adversários queriam, "a partir dessa gravação, solicitar a minha retirada da presidência dos inquéritos", disse.

Alexandre de Moraes disse hoje que, em resposta a essa denúncia, pediu ao senador que entregasse a informação por escrito, para que fossem tomadas diligências - pedido este que foi recusado por Marcos do Val. "O que não é oficial, para mim não existe", disse Moraes, que terminou então a reunião.

Perante os presentes, o juiz criticou o desespero dos opositores, que contestam os resultados eleitorais de outubro que afastaram Bolsonaro do poder. “Olhem o ridículo a que nós chegámos na tentativa de um golpe no Brasil", ironizou o magistrado, que preferiu destacar o papel das autoridades judiciais na identificação de quem promoveu o ataque aos edifícios-sede dos poderes executivo, legislativo e judiciário na capital, em 8 de janeiro.

Além dos milhares de inquéritos, já há “apurações adiantadíssimas em relação aos grandes financiadores" daquilo que se classificou de tentativa de golpe, procurando retirar Lula da Silva da presidência brasileira.

"Lamentavelmente temos uma parte da elite que 'flertou' com o golpe durante quatro anos e no ano passado financiou esse golpe", afirmou, salientando que a isso se somaram "autoridades públicas que, covardemente, foram coniventes com a tentativa de golpe".

A "justiça brasileira aprendeu também a atuar de forma rápida e eficaz" contra "os populistas que querem destruir a democracia", disse, fazendo uma comparação com a situação nos EUA em que o processo está mais atrasado, dois anos depois do ataque ao Capitólio.

"As pessoas têm todo o direito de criticar as decisões do Supremo Tribunal Federal, mas não têm o direito de agredir" ou "ameaçar", avisou. "Esses vândalos, esses golpistas, passaram a confundir a liberdade de expressão com a liberdade de agressão".

Na quinta-feira, o senador brasileiro Marcos do Val disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou coagi-lo a participar num golpe para permanecer no poder. “Foi uma tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei", disse o senador numa transmissão ao vivo em que discutia com membros do Movimento Brasil Livre (MBL).

O MBL é um grupo que defende temas da extrema-direita e que atuou fortemente na destituição da ex-presidente Dilma Rousseff. O grupo é composto por parlamentares e influenciadores que tentam posicionar-se como expoentes da direita contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a revista brasileira Veja, um conjunto de mensagens a que teve acesso mostrou que 21 dias antes de terminar o seu Governo o ex-presidente Jair Bolsonaro terá elaborado um plano com o apoio de um grupo restrito de aliados para tentar reverter a sua derrota eleitoral.

A revista informou que o plano se baseava no aliciamento de alguém de confiança para se aproximar do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que pudesse ser usado como argumento para prendê-lo e invalidar a eleição.

A publicação acrescentou que a gravação, caso fosse obtida, seria usada para desencadear uma série de medidas que atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes e possibilitaria uma intervenção de Bolsonaro para se manter no poder.

Além do senador Marcos do Val, o ex-deputado 'bolsonarista' Daniel Silveira, preso na manhã de quinta-feira por desobedecer a ordens judiciais, também terá tido conhecimento do plano.

A revista informou que Silveira foi quem procurou o senador e lhe contou o plano para tentar anular as eleições e também marcou um encontro secreto dos dois com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.
Segundo a reportagem, Marcos do Val quis saber como o plano seria colocado em prática e Bolsonaro ter-lhe-ia dito que já tinha acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do Presidente, que daria o suporte técnico à operação de gravação fornecendo os equipamentos de espionagem necessários.

O senador foi escolhido porque era um forte aliado de Bolsonaro e conhecia o juiz do STF há mais de uma década. No entanto, afirmou ter-se assustado com o plano e contado tudo o que lhe fora proposto a Moraes depois do alegado encontro com Bolsonaro.

Segundo informações dos 'media' locais, a Polícia Federal deverá intimar o senador Marcos do Val, na condição de testemunha, a depor na investigação aberta para apurar os ataques ocorridos após a segunda volta das eleições presidenciais, que culminaram nas invasões e vandalismo provocados por milhares de 'bolsonaristas' nos edifícios dos três poderes a 8 de janeiro, em Brasília, a capital do país.