"Prevemos fechar a 100% a vacinação dos mais de 80 anos e dos mais de 50 anos com comorbilidades", consideradas como fatores de risco, "até dia 11 de abril", avançou Gouveia e Melo.

O responsável pela task-force reconheceu, porém, que algumas pessoas não foram vacinadas por impossibilidade de contacto.

"Naturalmente, poderão ficar pequenas bolsas que não conseguimos contactar, mas a grande maioria desta comunidade, que tem a ver com salvar vidas, estará fechada até 11 de abril”, afirmou o responsável pelo plano de vacinação".

O coordenador do plano de vacinação adianta ainda que 200 mil docentes e não-docentes estarão vacinados no fim de semana de 17 e 18 de abril.

Numa audição na comissão parlamentar de Saúde, Henrique Gouveia e Melo vincou a “coerência da estratégia”, reiterando os 90% de vacinas alocadas ao salvamento de vidas e 10% para o fortalecimento da resiliência do Estado e refutou uma possível “inversão da estratégia”, como questionou o deputado do PSD Ricardo Batista Leite, com a vacinação dos docentes e não docentes do ensino pré-escolar e primeiro ciclo nesta fase.

“O facto de se meter a comunidade educativa no conceito de resiliência: Grande parte dessa comunidade, cerca de 200 mil pessoas, vai ser já vacinada na transição da primeira para a segunda fase, quando salvar vidas está praticamente resolvido a 100%”, frisou, sublinhando o reforço da vacinação deste grupo após a conclusão dos outros grupos prioritários.

“E é nesse fim de semana a seguir [de 11 de abril] que se vai fazer o grande impulso no ensino e que são as tais 200 mil vacinas. Este impulso no ensino também serve para testar as nossas metodologias de vacinar 100 mil pessoas de cada vez, que têm de ser praticadas e testadas antes de entrarmos em funcionamento, no início de maio, com esses ritmos de vacinação”.

O coordenador da ‘task force’ deixou também transparecer alguma perplexidade com o aparecimento de novas questões sobre a utilização da vacina da AstraZeneca, como ocorreu no Canadá e na Alemanha nas últimas horas, ao questionar as motivações dessas dúvidas e asseverando que Portugal vai estar alinhado com a Agência Europeia do Medicamento (EMA).

“A EMA não mudou a sua posição sobre a AstraZeneca. Há um conjunto de movimentos à volta da AstraZeneca que não se conseguem perceber se são só de preocupação clínica ou se são de outra ordem”, questionou.

“O que decidimos é seguir as recomendações estritas da EMA. Neste momento, o regulador europeu não cria nenhuma restrição à utilização desta vacina, continuando a afirmar que as vantagens superam muito qualquer inconveniente que possa aparecer”, afirmou.

Sobre a aquisição de todas as vacinas disponíveis contra a covid-19 no mercado, Henrique Gouveia e Melo lembrou que Portugal apenas adquire as vacinas que são validadas pela EMA e que o plano de aquisição é conduzido pelo Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento).

Gouveia e Melo diz que Portugal “não estava preparado" para administrar 20 milhões de vacinas em seis meses

“As coisas não estavam preparadas. Se alguém pensa que estava tudo preparado, não estava. O país não estava preparado para dar 20 milhões de vacinas em cerca de seis meses. Há um conjunto de adaptações que estão a ser feitas em ritmo muito acelerado e também têm falhas e temos de viver com elas. Se alguém pensar que este processo vai ser isento de falhas, está a pensar mal, de certeza, e a exigir coisas que são impossíveis de fazer”, disse o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo durante a audição.

Gouveia e Melo admitiu que “o agendamento e a convocatória são uma elevada preocupação em termos organizativos”, mas realçou o trabalho da ‘task force’ para “melhorar os dados”, a criação de alternativas – entre as quais destacou o sistema de autoagendamento – e a montagem da operação e da logística necessárias para o processo de vacinação.

Manifestando-se certo de mais “contratempos”, o coordenador da ‘task force’ lembrou a falta de tempo para o planeamento e a preparação de infraestruturas, mas recusou estar a queixar-se da missão a seu cargo.

“Estamos a conseguir responder, com dificuldades e preocupações, mas há um forte empenhamento, quer do Ministério da Saúde, quer dos profissionais no terreno. Não tenho de me queixar de nada”, afirmou Gouveia e Melo reiterando ainda a preocupação com a capacidade dos sistemas de informação para gerirem os dados necessários à convocatória diária de 100 mil pessoas para vacinação a partir de maio.

“Estou preocupado neste momento em concretizar um plano que vacine 100 mil pessoas diariamente e que consiga ‘em pico’ até vacinar 150 mil pessoas. Isto não é uma corrida de 100 metros e sim uma maratona”, observou ainda o responsável pela coordenação do processo de vacinação.

Às perguntas dos deputados sobre a contratação dos recursos humanos necessários para o reforço da operação no segundo trimestre - e que Gouveia e Melo já estimou em “cerca de 2.500 enfermeiros, 400 médicos e 2.300 assistentes” -, o coordenador da ‘task force’ notou que “há ‘luz verde’ para a contratação” e realçou o caráter crítico deste processo para o país.

“Os recursos terão de aparecer e ser disponibilizados para fazer esta tarefa. Não me parece que vá haver um grande problema; claro que vai haver problemas de contratação, de preparação, de como vão ser os contratos, mas esse também é um problema com o qual não me posso preocupar neste momento. Desde que os recursos sejam disponibilizados, a minha grande preocupação é organizar esses recursos”, sentenciou.

Jovens com doenças "muito críticas" devem ser prioritários na vacinação

“O que nós devemos fazer, e é esta opinião que eu tenho transmitido à DGS, é que há doenças que podem atingir grupos etários muito mais jovens e são esses pequenos grupos que devem ter prioridade”, defendeu o vice-almirante Gouveia e Melo.

Para o responsável pelo plano de vacinação, se essas doenças forem muito críticas, independentemente de a pessoa ser mais jovem, pode ter “uma grande vulnerabilidade durante esta pandemia”.

“É isso que nós temos que tratar, encontrar doenças que estão a atacar grupos muito jovens e que podem não ser atingidos pelo critério de idade rapidamente e que devem ser puxados para a frente”, defendeu Gouveia e Melo em resposta a questões colocadas por deputados sobre grupos que deviam ser considerados prioritários para vacinação como os fisioterapeutas, pessoas com deficiência ou doenças raras, docentes do ensino superior ou trabalhadores de serviços essenciais.

“Todos os grupos são importantes, todos os grupos têm justificações de priorização. No entanto, as vacinas não dão para atender a todos os grupos. Não podemos ir de grupo em grupo profissional porque senão vacinamos Portugal inteiro, através dos grupos profissionais”, afirmou.

Para o coordenador do plano de vacinação, “o critério mais justo” a partir da segunda fase é o da idade.

“Quem decide é a Direção-Geral da Saúde, mas eu continuo a defender junto da DGS que este é o critério mais justo porque há uma correlação muito forte entre a maior parte das doenças e idade e fazendo a vacinação por faixas etárias decrescentes está a atacar-se também essas comorbilidades", disse.

De acordo com Gouveia e Melo, a previsão é que se tudo “correr bem” no dia 04 de abril Portugal terá 94% dos maiores de 80 anos vacinadas e 77% das pessoas dos 50 aos 80 anos com comorbilidades tipo 2.

“Na semana a seguir fechamos a fase 1 em termos destes dois grupos porque teremos em princípio os 100% de vacinados, tirando algumas bolsas que por motivos de contacto não se consigam chegar a elas", disse.

Para chegar a estes casos, estão a ser criados mecanismos, através das autarquias e de contactos de proximidade, incluindo a GNR, que tem o programa dos idosos para “evitar que idosos infoexcluídos ou isolados escapem à malha de vacinação”.

Segundo dados da DGS, já foram vacinados em Portugal 1.641.946 pessoas.

A pandemia de covid-19 já provocou em Portugal 16.845 mortes, entre os 821.104 casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2, segundo a DGS.