A acusação, que pediu prisão perpétua, recorreu de todas as decisões anunciadas em 20 de setembro contra os 21 arguidos, disse o porta-voz da acusação, Faustin Nkusi, à agência France-Presse (AFP).

Rusesabagina, o antigo gerente que inspirou o filme “Hotel Ruanda” sobre o genocídio de 1994 no país, foi condenado pela justiça ruandesa em setembro a 25 anos de prisão por terrorismo após um julgamento que durou sete meses e cuja imparcialidade foi questionada pela sua família e por organizações de direitos humanos.

A Câmara do Supremo Tribunal para Crimes Internacionais e Transfronteiriços, em Kigali, declarou Rusesabagina, 67 anos, culpado de vários delitos relacionados com o terrorismo por liderar a Frente de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do seu partido, o Movimento Ruandês para a Mudança Democrática.

Em setembro do ano passado, o antigo gestor admitiu em tribunal ser o fundador da FLN, mas negou o envolvimento nos seus crimes, que incluem ataques que mataram pelo menos nove pessoas entre 2018 e 2019.

Das nove acusações, o tribunal considerou-o culpado de oito, incluindo a pertença a um grupo terrorista e o financiamento do terrorismo.

Rusesabagina, que deixou de comparecer em tribunal em março com o fundamento de que não iria ter um julgamento justo, foi condenado num processo conjunto com 20 membros da FLN.

Aquando do veredito, o procurador principal, Aimable Havugiyaremye, expressou a insatisfação da acusação, dizendo que “todos os arguidos receberam penas inferiores às requisitadas”.

O antigo gerente foi detido em 31 de agosto no aeroporto internacional de Kigali, numa detenção que a sua família e advogados descrevem como um “rapto”.

Organizações como a Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) apontaram numerosas violações dos direitos do arguido ao longo do processo, “incluindo a detenção de Rusesabagina sob falsos pretextos e a transferência ilegal para o Ruanda”, de acordo com a diretora regional adjunta da AI para a África Oriental, Sarah Jackson.

Rusesabagina foi gerente do famoso Hotel Thousand Hills, na capital ruandesa, e alojou mais de 1.000 tutsis e hutus moderados para os salvar dos hutus extremistas durante o genocídio de 1994.

O antigo gerente tinha-se tornado um adversário altamente crítico do regime de Paul Kagamé, pelo que viveu no exílio entre a Bélgica – cuja nacionalidade detém – e os Estados Unidos, onde criou uma fundação que promove a reconciliação para evitar novos genocídios.

No Ruanda, porém, foi criticado por sobreviventes que o acusaram de explorar o genocídio em proveito pessoal.

O genocídio começou em 07 de abril de 1994, após o assassínio, no dia anterior, dos presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana (hutu), e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (hutu), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.

Os assassínios, pelos quais o Governo ruandês culpou os rebeldes tutsi da Frente Patriótica Ruandesa, de Kagamé, desencadearam o massacre de cerca de 800.000 tutsis e hutus moderados em cerca de 100 dias, um dos piores assassínios étnicos da história recente.

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