No terreno há mais de uma década, com o apoio de instituições públicas de Portugal e de Cabo Verde, mas também de empresas privadas, o projeto é dinamizado por Sofia Gonçalves, professora e investigadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra (ESEC/IPC), com o intuito de promover hábitos de leitura nas crianças daquele país de língua portuguesa.
Em declarações à agência Lusa, Sofia Gonçalves frisou que o “Viajar com Livros” permitiu criar nove bibliotecas escolares na ilha de Santiago (a mais populosa do arquipélago e onde se situa a capital do país, Praia), duas no Sal (onde o projeto começou) e três em São Vicente, estas as mais recentes, com abertura agendada para o final do mês.
Tendo residido dois anos em Cabo Verde, a partir de 2009, quando assumiu funções na ilha do Sal, num colégio com currículo português, a professora da ESEC quis, na altura, conhecer escolas públicas daquele país africano - onde o ensino básico é integrado (dos 06 aos 12 anos) - tendo privado com crianças e professores “que queriam criar hábitos de leitura nos seus alunos”.
“Mas as crianças não tinham acesso a bibliotecas e, assim, o projeto surgiu de uma necessidade real e local”, observou Sofia Gonçalves.
“As escolas não tinham livros de literatura infantojuvenil e o grande objetivo era proporcionar às crianças livros de literatura infantil, nas escolas, e não no município ou numa biblioteca municipal, para que eles tivessem um acesso mais direto ao livro”, especificou a professora.
Contando com o “apoio estratégico” da construtora Mota-Engil, que desenvolve trabalhos marítimos em Cabo Verde e ajudou a transportar, em contentores, os livros doados, a iniciativa logrou reunir uma rede de parceiros e não mais parou, nem durante a pandemia de covid-19.
Nessa altura, para além da criação de bibliotecas escolares físicas, foi acrescentada uma segunda dimensão ao “Viajar com Livros”: sessões ‘online’, à distância, de contadores de histórias, com a participação de cerca de 70 estudantes da formação inicial de professores da ESEC, “durante um mês num ano letivo”, geralmente entre abril e maio.
Se a construção de bibliotecas escolares e as sessões de contadores de histórias se mantêm ativas, atualmente está em curso uma terceira dimensão, que passa pela criação da Biblioteca Digital Colaborativa.
Esta nova plataforma será um espaço para livros de literatura infantil em formato digital, integração de vídeos criados por voluntários contadores de histórias portugueses e cabo-verdianos, e partilha de práticas pedagógicas na área da promoção da literatura infantil em contextos educativos, com obras recomendadas pelos Planos Nacionais de Leitura de Portugal e de Cabo Verde, explicou Sofia Gonçalves.
Reúne ainda, entre outros parceiros, a embaixada de Portugal em Cabo Verde, a ESEC/IPC, a Universidade de Santiago, Instituto Camões, Ministério da Educação de Cabo Verde, UNESCO ou a Fundação Manuel António da Mota.
Desenvolvida no âmbito de um programa que visa a colaboração com países de fora da Europa, integrado no Erasmus+, a nova Biblioteca Digital Colaborativa passa também pela integração de alunos dos cursos de Educação Básica e de Comunicação Design e Multimédia da ESEC e Marketing e Multimédia da Universidade de Santiago.
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