As eleições autárquicas de 11 de outubro, as sextas que o país organiza, ficam marcadas na capital pela não recandidatura do atual presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, o ‘veterano’ Eneias Comiche, 84 anos, eleito pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

Economista com um longo currículo político e que, além de autarca, já foi ministro e governador do banco central, entre outros cargos, a sua ausência, numa campanha eleitoral no terreno desde 26 de setembro, deixa tudo em aberto para a disputa eleitoral na capital, com os três principais partidos a escolherem jovens, experientes, mas que tentam a estreia naquele cargo.

“Não encaremos este processo como mero exercício formal para a mudança de atores de governação, mas sim como um momento de revitalização da nossa ação governativa, visando conferir mais dinâmica e reforçar a capacidade de resposta do Conselho Municipal de Maputo”, promete, em “showmício”, Razaque Manhique, a aposta da Frelimo para Maputo, no meio de milhares de simpatizantes que assistiram ao lançamento da campanha do partido no poder, em Hulene, subúrbios da capital moçambicana.

Razaque Manhique, um jurista de 41 anos, é apontado como uma aposta diferente da Frelimo, que sempre optou por candidatos politicamente mais experientes para a principal autarquia moçambicana.

Razaque vem das “bases” do partido no poder: foi primeiro secretário do comité da Frelimo na Cidade de Maputo, vice-presidente da Assembleia Municipal de Maputo e chefe da Bancada da Frelimo naquele organismo.

Nas ruas da periferia de Maputo, estas movimentações de uma disputa entre candidatos maioritariamente jovens pouco cativa a própria juventude.

O problema continua a ser “a falta de oportunidades” para esta camada, “empurrada”, muitas vezes, para o setor informal, alertou um jovem mecânico de rua em Hulene, à conversa com o cabeça-de-lista da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para a cidade de Maputo, Venâncio Mondlane.

“É preciso valorizar o trabalho das pessoas do setor informal porque na verdade 70% da economia urbana da cidade de Maputo depende deste trabalho. O trabalho formal só consegue sustentar entre 30 e 35% das famílias na cidade de Maputo”, explica a uma eleitora o político, referindo que a Renamo tem, no seu manifesto, este grupo como prioritário.

Venâncio Mondlane, engenheiro florestal e deputado no parlamento, tem 49 anos e é classificado pelos seus simpatizantes como VM7 – o CR7 da política moçambicana, numa alusão a Cristiano Ronaldo.

Mondlane tenta, uma vez mais, “resgatar Maputo”, como avança no seu slogan, após ter sido derrotado no escrutínio de 2018 com 36,43% dos votos, contra 56,95% do candidato da Frelimo.

Venâncio Mondlane saiu em 2018 do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido parlamentar, para a Renamo, numa de várias movimentações de candidatos inéditas em eleições autárquicas em Moçambique naquele ano.

Além de outros candidatos de partidos extraparlamentares e movimentos cívicos, Razaque e Mondlane disputam a posição com Augusto Mbanzo, do MDM, terceira força política parlamentar moçambicana.

Mbanzo, um professor de 45 anos, volta a concorrer pela segunda vez para as autárquicas na cidade de Maputo e, agora, com um manifesto que assume também a juventude como prioridade.

“Estamos preocupados com os jovens que não têm emprego e estão agora perdidos nas drogas. Queremos reverter isso”, promete Mbanzo, acompanhado por dezenas de simpatizantes no meio da azáfama de Hulene, subúrbios de Maputo.

Mais de 11.500 candidatos de 11 partidos políticos, três coligações de partidos e oito grupos de cidadãos iniciam, na terça-feira, a campanha eleitoral para as sextas autárquicas moçambicanas de 11 de outubro.

Cerca de 8,7 milhões de eleitores moçambicanos estão inscritos, abaixo da projeção inicial, de 9,8 milhões de votantes, segundo dados anteriores da Comissão Nacional de Eleições.

Os eleitores moçambicanos vão escolher 65 novos autarcas em 11 de outubro, incluindo em 12 novas autarquias, que se juntam a 53 já existentes.

Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo venceu em 44 das 53 autarquias e a oposição em apenas nove – a Renamo em oito e o MDM em uma.