Ao terceiro dia do conhecido festival da canção italiana, que se celebra naquela cidade da Ligúria desde 1951, o movimento «Riscatto Agricolla» (resgate agrícola), que tem coordenado ações de protesto dos agricultores italianos, espera fazer-se ouvir hoje à noite no palco de Sanremo, durante um evento com grande audiência em Itália — mais de 10 milhões de telespetadores por noite -, na sequência de um convite que lhe foi dirigido pelo diretor artístico do festival, «Amadeus», o nome artístico do apresentador de televisão Amedeo Sebastiani.
No entanto, a pretensão de representantes da plataforma esbarra na posição da estação pública italiana RAI, organizadora do festival, que já fez saber que não manteve quaisquer contactos com os agricultores e rejeita a possibilidade de permitir a sua subida ao palco do teatro Ariston, tendo apenas concordado que seja lido um curto comunicado dos manifestantes, provavelmente por parte do anfitrião.
Depois de, numa conferência de imprensa, o diretor artístico do festival ter dito que se os agricultores aparecessem em Sanremo os faria subir ao palco, os representantes deste movimento de ‘revolta’ dos agricultores espera que não lhes seja retirado o convite, embora admitindo que não houve contactos com a RAI.
“Não chegámos a um acordo com a RAI, mas agora não podem retirar o convite, não causariam boa impressão”, comentou um dos líderes do movimento, Filippo Goglio, em declarações à imprensa italiana, enquanto um seu colega, Davide Pedrotti, confirmou que o seu objetivo ainda é “subir ao palco”, nem que seja “por cinco minutos”, para explicar as razões da luta dos agricultores a todos os cidadãos italianos.
Independentemente do ‘palco’ que conseguirem em Sanremo, o grande momento da contestação dos agricultores italianos está previsto para a próxima semana na capital, esperando os movimentos de protesto que se juntem “milhares de veículos, incluindo tratores e camiões” em Roma, cidade para a qual já estão a dirigir-se há dias tratores de todo o país.
O outro grande movimento de protesto dos agricultores, o CRA (Comité dos Agricultores Traídos), que está a organizar a grande manifestação de Roma, indicou que a mesma deverá ter lugar “na segunda metade da próxima semana”, eventualmente a 15 de fevereiro, e a sua ambição é que a marcha dos veículos agrícolas tenha lugar no histórico Circo Máximo, o maior circo da Roma Antiga, com capacidade para perto de 300 mil espetadores,
“Amanhã [sexta-feira] começará a mobilização em redor da capital, com as cinco guarnições a encherem-se. Não sabemos ainda o dia exato da manifestação, mas presumivelmente será na segunda metade da próxima semana. Não queremos bandeiras de partidos, sindicatos ou políticos. Somos apolíticos”, declarou o líder do CRA, Danilo Calvani.
Na sexta-feira de manhã, é esperado um cortejo de dimensões mais reduzidas na circular de Roma, organizado pela plataforma Resgate Agrícola.
A Itália é um dos muitos países europeus onde se têm registado ações de protesto de agricultores, que prosseguem, de Portugal à Bulgária, apesar de cedências da Comissão Europeia e de vários governos nacionais.
Em Itália, os agricultores defendem uma redução do preço do gasóleo agrícola e da água para utilização na agricultura, fundos adequados para compensar a perda de rendimento da produção agrícola e a criação de um organismo de proteção para determinar o preço dos produtos, entre outras reivindicações.
Os movimentos de contestação também se insurgem contra o ‘fardo’ burocrático e financeiro da ‘transição verde’ e contra acordos internacionais com países terceiros que dizem constituir concorrência desleal, designadamente o caso das importações de cereais e outros produtos da Ucrânia.
Comentários