A posição do PS, que ainda tem por agendar uma resolução sobre esta matéria, foi decisiva para a reprovação logo na generalidade da iniciativa legislativa do Bloco de Esquerda, que contou com os votos favoráveis do PCP e do PEV.

A dirigente socialista Wanda Guimarães optou porém pela abstenção, tal como o deputado do PAN, André Silva, com o líder da Juventude Socialista (JS), Ivan Gonçalves, o seu antecessor neste cargo, João Torres, e o deputado do PS Diogo Leão a anunciarem a apresentação de uma declaração de voto sobre o tema.

Numa curta intervenção, o líder da JS, Ivan Gonçalves, referiu que a sua organização foi a primeira a fazer propostas para introduzir limites às desigualdades salariais e considerou que, por princípio, o Estado "deve intervir em situações de imoralidade" económico-financeira.

No entanto, logo a seguir, o secretário-geral da JS defendeu que a questão deve ser colocada em primeira instância na concertação social e não alvo de imediata intervenção legislativa por parte do parlamento, tal como prevê o diploma do Bloco de Esquerda.

Na resposta, o deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro classificou como "esfarrapada a desculpa do recurso à concertação social apresentada pelo PS" para chumbar a iniciativa legislativa da sua bancada.

"Espero que a resolução do PS não sirva de biombo para nada se fazer contra as desigualdades salariais", advertiu José Soeiro.

José Soeiro, na sua primeira intervenção, recorreu a uma forma original para expor as enormes diferenças salariais existentes em Portugal.

O deputado bloquista começou por abrir um enorme cartaz, com quase dois metros de comprimento, que representa o tamanho do vencimento de um gestor de empresas como a EDP ou CTT.

Depois, José Soeiro mostrou uma folha pequena, cujo tamanho simboliza o salário médio em Portugal.

Por fim, o deputado do Bloco de Esquerda mostrou um número numa folha muito pequenina que só se pode ver com uma lupa e que representa o vencimento de um trabalhador dos CTT e, finalmente, um outro número que apenas poderá ser observado através de um microscópio e que representa o salário de um trabalhador do grupo Jerónimo Martins.

Na reação, a deputada do PSD Sandra Pereira fez uma intervenção que motivou sonoros protestos nas bancadas de esquerda, começando por dizer que a iniciativa legislativa do Bloco de Esquerda apenas surgiu para esta força política se "limpar do caso Robles".

"Este projeto representa uma ingerência na vida das empresas privadas e traduz o conceito estalinista do Bloco de Esquerda", declarou, considerando ainda que, caso fossem aplicados limites aos salários dos gestores, tal contribuiria para a deslocação das empresas para outros países.

Bem diferente, sobretudo em termos de moderação de tom, foi a intervenção feita pelo deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro, que reconheceu a importância de se analisar o problema da desigualdade salarial em Portugal.

No entanto, António Carlos Monteiro criticou "os preconceitos" do Bloco de Esquerda em relação a empresas com mais de dez trabalhadores e sugeriu que o tema das desigualdades salariais seja debatido em concertação social.

O deputado do CDS-PP deixou também uma mensagem de preocupação "face à crescente radicalização política evidenciada pela bancada do PS" em relação a matérias económico-financeiras.

"Preocupa-nos que o PS ande a correr atrás de iniciativas da extrema-esquerda. Em vez de dar incentivos para uma mais justa redistribuição salarial, o PS prefere taxar mais as empresas por via da Taxa Social Única (TSU)", apontou.

O PCP, por intermédio da deputada Rita Rato, comunicou o voto a favor da bancada comunista face ao diploma do Bloco de Esquerda, mas considerou que "há outras prioridades mais imediatas" no plano social, designadamente de ordem salarial.

"Queremos o aumento dos salários de todos os trabalhadores. Queremos que o Salário Mínimo Nacional se fixe nos 650 euros já em janeiro de 2019", vincou a deputada do PCP.