O chefe de Estado passou perto de duas horas e meia na fábrica Diniz & Cruz, em Alfragide, na Amadora, onde trabalham cerca de 160 mulheres e 12 homens, demorando-se à conversa para ouvir cada história individual, a composição da família, a demora na deslocação para o trabalho, o percurso profissional.

"Eu tinha, neste dia, de dar um sinal de agradecimento às mulheres de Portugal. Aquilo que normalmente se faz é condecorar mulheres, ou reunir num almoço as mulheres importantes, aquelas que são importantes na política, nas artes, na universidade", afirmou, num curto discurso, no final da visita.

Rodeado por dezenas de trabalhadoras da fábrica, Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que preferiu fazer diferente e estar com mulheres "que são importantes no trabalho do dia a dia e que não aparecem nas televisões", a quem deixou uma mensagem de força: "Continuem assim e sejam cada vez mais fortes".

"Mais fortes ainda, e passem a mensagem para filhas e netas. As vossas filhas e as vossas netas, quando tiverem as vossas idades, terão de assistir a um país melhor quanto à posição da mulher do que o país que temos hoje. Eu espero que nessa ocasião a Presidente da República já seja uma mulher", concluiu.

O Presidente da República saudou o administrador desta fábrica de fatos e casacos fundada em 1972, José Manuel Cruz, que "também anda nisto há muito tempo e começou por baixo e fez-se a pulso", mas disse esperar "que no futuro sejam só patroas".

"No futuro, o ideal é ser uma casa onde trabalham mulheres com a gestão de mulheres", defendeu.

Em Portugal, referiu, "as mulheres ganham menos do que os homens, em muitos casos trabalham mais do que os homens ou tanto quanto os homens, e têm várias dificuldades que os homens não têm, e que se notam ainda muito hoje, mais de 40 anos depois da democracia".

Durante a visita, Marcelo Rebelo de Sousa experimentou engomar um pedaço de tecido, ajudou a servir refeições à hora de almoço e testemunhou a comoção de várias trabalhadoras, uma das quais, Luísa, trouxe um texto da sua autoria para lhe ler, a propósito do Dia Internacional da Mulher.

"Eu sinto as pernas a tremer", declarou a mulher. "Mas dê-me a mão, que eu dou-lhe força", retorquiu Marcelo, e Luísa declamou: "Por este mundo fora, de certeza que agora mulheres estão sendo maltratadas. Elas estão desprotegidas, indefesas, e muitas vezes acabam sendo violadas. Mulheres que não têm voz, elas precisam de nós, vamos todos ajudar".

O chefe de Estado observou: "Como isso é verdade. Por esse mundo fora, o que a mulher sofre. E não é só por esse mundo fora".

"Esta é uma mulher de armas, ela chorou ao pensar nas mulheres que sofrem por todo o mundo. E não é só por todo o mundo. Em Portugal há assédio, e há violência doméstica, há abusos e há desigualdades muito grandes ainda", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa demorou-se também junto de uma trabalhadora que fazia anos e tentou surpreender a sua filha, que mora em Toronto, no Canadá, fazendo uma chamada internacional com um telefone emprestado pelo assessor de imprensa.

Como ninguém atendeu, o Presidente deixou uma mensagem telefónica: "Liliana, ainda está a dormir? Estou aqui com a sua mãe que está a fazer 56 anos – diz ela, mas eu não acredito. E era para ver se falava consigo e se falava com a sua mãe logo ao acordar. Ainda está a dormir, como é que é possível? Olhe, eu estou aqui com a sua mãe, chamo-me Marcelo Rebelo de Sousa. Era para dar parabéns por ter uma mãe assim."

A quase todas as trabalhadoras o chefe de Estado perguntava se eram casadas, se tinham filhos e netos, e por vezes também se "mandam no marido". Quando chegou a vez de Fátima, ouviu uma resposta inesperada: "Não. Sou divorciada, felizmente. Quer casar comigo?".

"Divorciada, bonita, isto é um perigo à solta", comentou Marcelo Rebelo de Sousa.

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