O “Leão do Mar” fez-se ao mar na sexta-feira à noite com oito mil litros de gasóleo no depósito e voltou hoje de manhã ao porto de Peniche, onde se está a preparar para mais uma saída para a faina.

Ao leme, Paulo Francisco, garante que nem ele nem os restantes quatro tripulantes se preocupam com a falta de combustível.

“Temos gasóleo para cerca de mês e meio”, diz o mestre, convicto de que “mais depressa o gasóleo falta em terra, aos compradores, que, sem poder circular, vão deixar o peixe ficar na lota”.

Esse é também o medo de José Martins, pescador no “Princesa de Peniche”, embarcação que esta tarde partiu para a pesca da sardinha, depois de abastecer 2.000 litros de gasóleo no posto da CAPA – Cooperativa dos Armadores da Pesca Artesanal.

Pelas contas do pescador, “até final da semana há gasóleo”, até porque, a semana é atípica, com menos dois dias de faina.

Às quartas-feiras, a pesca da sardinha é interdita e na quinta “é feriado e os barcos não vão ao mar”, explicou.

Para a semana “logo se verá como vai ser”, diz, admitindo “alguma preocupação”, com “a possibilidade de não abastecerem [o posto de combustível], de não haver compradores para o peixe e de o pessoal ter que ficar em terra”, até porque, se não vão ao mar, “não se ganha a vida”.

António Pereira meteu “4.000 litros na Figueira da Foz”, a semana passada, “antes de começar a greve”. O depósito do “Nossa Senhora da Graça”, matriculado em Leixões, “ainda dá para duas ou três marés”, mas, ainda assim, o armador não quer “deixar passar de sexta-feira para voltar a abastecer” o barco.

“Hoje vim só ver como estava a situação aqui no posto”, disse à agência Lusa, que constatou no local que o depósito da CAPA, com capacidade para 96 mil litros, estava reduzido a 22 mil litros de gasóleo.

O presidente da CAPA, Jerónimo Rato, que gere a bomba localizada no posto de Peniche, há dois dias que espera “um camião para fazer o reabastecimento com cerca de 30 mil litros” e que “tanto pode chegar hoje, como não chegar”.

Seja como for, na bomba que abastece “95% da frota” de Peniche [com cerca de 200 barcos, entre embarcações de pesca e turísticas] “não há problemas de abastecimento”, garante Jerónimo Rato, lembrando ter “alertado as embarcações para que toda a gente fosse abastecer até à passada sexta-feira”.

Já hoje, e até que chegue o esperado camião com gasóleo, “as vendas estão a ser racionadas até 1.000 litros, ou 2.000 nos casos de barcos maiores”, para garantir que “os turísticos marítimos, que tem depósitos mais pequenos e precisam de abastecer quase todos os dias, não ficam sem combustível”.

Se depender do presidente da CAPA, “ninguém vai ficar sem gasóleo” na única bomba da Rede de Emergência de Postos de Abastecimento (REPA) onde o stock “está a ser gerido com todo o cuidado”.

Por norma, o posto comercializa por mês cerca de quatro milhões de litros de gasóleo e os abastecimentos podem chegar aos 30 a 40 mil litros numa manhã.

Mas agora “as quantidades estão a ser mais racionadas”, explica Nuno, o operador do posto que, até ao meio-dia de hoje tinha abastecido “sete barcos, com quantidades entre os 200 e os 2.000 litros, num total de 5.100 litros”.

Cerca de 200 litros de gasóleo é quanto gasta, por exemplo, o “Cabo Avelar”, em média, por cada viagem entre Peniche e a ilha das Berlengas.

“Abastecemos há uma semana e ainda temos combustível para mais uma semana, mas depois disso já não poderemos fazer as seis travessias diárias de ida e volta”, explica Mário Dias, gerente da empresa que há 80 anos transporta passageiros entre Peniche e a Reserva Natural.

Mário está preocupado com a demora “no cumprimento dos serviços mínimos” e que a falta de combustível impeça a empresa de “cumprir com as pessoas que reservaram a viagem, que vêm de fora, e que de forma alguma podem chegar aqui [ao porto] e não podem ir para ilha”.

Muitos clientes “já telefonam a perguntar se a travessia é feita, apesar da greve” mas, até hoje, “ninguém cancelou por falta de combustível para chegar aqui, ou com receio de não haver combustível para o barco”, afirma.

À hora prevista, o “Cabo Avelar” lá partiu, com os 185 lugares a bordo ocupados por turistas a quem a greve dos camionistas ainda não impediu de rumar à ilha.

Se depender de Mário, a travessia será como sempre, cumprida até setembro, “haja ou não greve”.

E, para isso, entre uma viagem e outra, o “Cabo Avelar” também passará pela bomba da CAPA “a abastecer com o que houver”, para garantir que não será por falta de gasóleo que os turistas ficarão em terra.

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