Dados divulgados à agência Lusa pela ANEPC indicam que, entre 2008 e 2018, morreram 14 bombeiros a combater incêndios rurais.

Dos 15 bombeiros mortos em acidentes rodoviários na última década, nove morreram a caminho de incêndios, dois no regresso dos fogos, outros dois em trânsito para ações de formação e dois no transporte de doentes, precisa a Proteção Civil.

Segundo a ANEPC, que cita dados disponibilizados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), entre 2010 e 2018 registaram-se 3.680 acidentes envolvendo viaturas dos bombeiros, 331 dos quais com carros dos bombeiros e 3.349 com ambulâncias.

Os dados da ANEPC indicam também que a sinistralidade rodoviária foi responsável por 12% dos acidentes reportados pelas corporações dos bombeiros em 2018, quando ocorreram 448 acidentes com veículos dos bombeiros e ambulâncias, mas três do que em 2017.

A ANEPC sublinha que as causas associadas aos acidentes são muito diversificadas, mas incidem principalmente na componente do “comportamento humano”, pelo que considera a sensibilização, formação e treino essenciais na resolução deste “problema grave”.

No entanto, estudos mostram que os riscos são também provenientes do excesso de trabalho, cansaço e turnos irregulares, estando mental e ‘stress’, peso e mau funcionamento dos veículos, não reconhecimento do veículo de emergência por outros automobilistas, falta de treino e qualificação para a condução dos carros dos bombeiros e excesso de confiança.

Bombeiros vão ter programa para reduzir acidentes rodoviários

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil vai realizar a partir deste ano um programa de promoção da segurança rodoviária junto das corporações para reduzir os acidentes que envolvem viaturas dos bombeiros.

Numa resposta enviada à agência Lusa, a ANEPC avança que o Programa de Promoção da Segurança Rodoviária dos Corpos de Bombeiros vai ser desenvolvido este ano e em 2020 e incide em três eixos estratégicos, que passam pela informação, sensibilização, formação e treino.

Segundo a ANEPC, este programa tem como objetivos a transmissão de informação técnica e a sensibilização para a mudança de comportamentos e atitudes ao nível da segurança rodoviária, bem como a promoção de cursos teórico-práticos sobre condução de emergência e a integração nos treinos operacionais da componente segurança rodoviária.

Outro dos eixos desta iniciativa passa por desenvolver o processo de lições aprendidas decorrentes especificamente de acidentes rodoviários, que permitam retirar conclusões para a aplicação de medidas corretivas, ao nível da “informação e sensibilização”, “formação e treino” e sistema de regulação dos bombeiros.

A Proteção Civil indica que este programa de promoção da segurança rodoviária junto das corporações de bombeiros vai ser desenvolvido em parceria com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e é uma das medidas prevista no Plano Estratégico Nacional de Segurança Rodoviária (PENSE 2020).

Segundo a ANEPC, este programa tem como meta reduzir o número de acidentes dos veículos dos bombeiros em 25% e diminuir o número de mortos e de feridos graves associados a este tipo de sinistralidade em 50%.

A Proteção Civil reconhece que nos últimos anos foi efetuado “um investimento significativo” na prevenção dos acidentes pessoais associados aos incêndios rurais, o que não foi acompanhado por idênticas medidas na área da segurança rodoviária, designadamente em operações de combate a incêndios rurais, emergência pré-hospitalar e transporte de doentes não urgentes.

Neste sentido, a ANPEC avançou à Lusa que a segurança rodoviária dos bombeiros é também uma prioridade, a exemplo da segurança em operações de combate a incêndios rurais, considerando que deve estar na agenda de todos os intervenientes neste sistema, nomeadamente comandantes dos corpos de bombeiros e presidentes das respetivas associações humanitárias.

A Proteção Civil considerou ainda “muito positiva” a formação no âmbito da segurança rodoviária ministrada pela Escola Nacional de Bombeiros, que incide sobre a condução fora de estrada e condução defensiva de veículos ligeiros.

A ANEPC adianta que o objetivo para o futuro incide no aumento da capacidade formativa destes cursos, uma vez que só é possível formar um número reduzido de formandos por cada edição dada a sua natureza prática.