Numa análise aos últimos dados disponíveis sobre emissões de GEE, relativas a 2021 e comunicadas por Portugal às Nações Unidas, a Zero lamenta que o setor dos transportes esteja “em contramão”, que as emissões na agricultura estejam “persistentemente altas”, e que as emissões nacionais de gases fluorados (para refrigeração) se mantenham duas vezes mais altas do que os valores europeus.
Segundo os números da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) as emissões de GEE em 2021, não considerando as alterações de uso do solo e floresta (que incluem emissões de incêndios, por exemplo), totalizaram 56,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), representando uma redução de cerca de 2,8% face a 2020 e de 34,8% face a 2005.
Considerando a componente florestal e a utilização dos solos o valor das emissões foi de 50,5 milhões de toneladas, uma redução de 5,5% face a 2020 e de 44% face a 2005.
“Isto significa que, desde 2005, as emissões têm baixado a um ritmo médio de cerca de 2,6% ao ano, o que é menos do que seria necessário. Recorde-se que, no âmbito da Lei de Bases do Clima, Portugal deverá até 2030 reduzir as suas emissões em pelo menos 55% face a 2005, devendo chegar a esse ano com não mais de cerca de 38,5 milhões de toneladas de CO2e”, salienta a Zero em comunicado.
Tal quer dizer, diz a associação, que as emissões de 2021-2030 terão de baixar em média pelo menos 04% ao ano, a um ritmo superior do que até agora. E avisa a Zero que tem de começar agora a descarbonização em setores mais difíceis, porque a parte mais fácil de descarbonizar foi feita: a redução de 2021 deveu-se essencialmente ao decréscimo de 22,2% das emissões na produção de eletricidade, com o fim das centrais a carvão e aumento da produção de energia renovável.
O setor dos transportes, nota a Zero, é um dos problemas, representando 28,2% das emissões de GEE em 2021, contra 25,8% em 2020. Emite mais do que o setor da energia (15%) ou a agricultura (13%).
O maior contribuinte para o problema são os automóveis. Portugal e Lituânia lideram no uso do automóvel, consequência da falta de investimento na rede ferroviária e em transportes públicos eficazes.
Transportes públicos combinados com mobilidade suave e limitação de entrada de automóveis nas cidades, porque os transportes públicos nunca cumprirão horários em ruas entupidas de carros, ciclovias e comboios são a solução, refere, lembrando que a poluição atmosférica mata prematuramente cerca de 6.000 portugueses por ano.
A Zero salienta ainda que as emissões da agricultura aumentaram 04% desde 2005, especialmente devido ao setor pecuário e especialmente devido ao aumento substancial de bovinos e suínos.
Menos bem está também a situação quanto à emissão de gases fluorados, usados nomeadamente em sistemas de refrigeração, com a Zero a alertar que as emissões em Portugal representam mais do dobro da média europeia. E que estes gases são centenas de milhares de vezes piores do que o CO2.
O hexafluoreto de enxofre, um gás fluorado, tem um potencial de aquecimento global milhares de vezes superior ao CO2 e dura mil anos, exemplifica a associação.
A Zero lembra que só uma pequena parte dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos é recolhida para reciclagem e que a generalidade dos equipamentos frigoríficos, ares condicionados e similares que são recolhidos chega sem as componentes que conteriam esses gases, que já terão sido libertados para a atmosfera.
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