"Pensem nas esperanças e sonhos dos vossos filhos e netos. Sabem que as suas possibilidades de trabalhar, de viajar, de construir o tipo de sociedade aberta e próspera que desejam, depende do resultado do referendo", afirmou Cameron num discurso à nação proferido, como é hábito, à porta da residência oficial de Downing Street, a dois dias do referendo sobre a UE e horas antes do grande debate da campanha. Os jovens "não poderão reverter a decisão que vocês tomarem", completou.
Cerca de seis mil pessoas assistiram também ontem, no pavilhão Wembley Arena de Londres, ao grande debate da campanha, organizado e transmitido pela BBC. O ex-mayor de Londres Boris Johnson e seu sucessor no cargo, o trabalhista Sadiq Khan, lideraram duas equipas que defenderam, respectivamente, a saída e a permanência do Reino Unido na UE.
Johnson descartou que Bruxelas vá punir Londres com tarifas alfandegárias se sair da UE. Estariam "loucos", assegurou, não podem arriscar. "Todos sabem que este país recebe um quinto da produção de carros alemã, uns 820 mil veículos por ano", afirmou.
"Não são mais que mentiras e mais mentiras", retorquiu Khan. "Boris, você deveria saber: cerca de meio milhão de empregos em Londres dependem diretamente da UE", destacou.
O debate decorreu num tom agressivo, que teve o seu ponto mais alto quando Khan lançou alguns folhetos da campanha favorável à saída da União Europeia com advertências de que a Turquia, um país de maioria muçulmana, poderia entrar na UE. "Você está a dizer mentiras e a assustar as pessoas", condenou. "Isso é alarmismo (...) Está a usar um artifício sobre a Turquia para assustar de forma a que as pessoas votem para sair", disse o mayor londrino, aplaudido pelos presentes.
A dois dias do referendo, a média das sondagens elaborada pela revista The Economist mostra que as pessoas mais velhas desejam a saída, 57% a 36%, numa proporção muito maior que a população em geral (44% partidários da permanência, 43% da saída). Também de acordo com a revista, 60% dos jovens desejam a permanência na UE e apenas 20% apoiam que se deixe o bloco europeu.
Também ontem, em mensagem exibida pela TV de Gibraltar, Cameron lembrou aos britânicos que têm uma "responsabilidade mais ampla" quando votarem, em alusão ao estreito.
'Sexta-feira negra'
O magnata George Soros, que fez fortuna ao apostar contra a libra em 1992, previu uma "sexta-feira negra" nos mercados mundiais se o Brexit triunfar, bem como o empobrecimento dos britânicos. "O valor da libra cairá de forma vertiginosa, pelo menos 15%", afirmou o magnata americano num artigo publicado no jornal The Guardian. "A ironia, neste caso, é que uma libra valeria aproximadamente um euro, uma forma de 'unir-se ao euro' que ninguém desejaria no Reino Unido", completou Soros.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, foi mais contundente ao afirmar que os britânicos se infligiriam uma "automutilação" se na quinta-feira votassem a favor da saída da UE.
Na segunda-feira, uma sondagem publicada pelo jornal Daily Telegraph apontou para a existência de 49% das intenções de voto para a permanência e 47% para a saída da UE. Uma sondagem do instituto YouGov para o Times mostra apoio de 44% ao Brexit e 42% para os partidários da continuidade.
Nas casas de apostas, no entanto, a permanência na UE leva grande vantagem, 78% a 22%.
Beckham a favor da UE
A UE recebeu o apoio do ex-jogador de futebol David Beckham, que foi capitão da seleção inglesa, e que defendeu a permanência ao recordar sua passagem por Real Madrid, Milão e Paris Saint-Germain, assim como os colegas europeus de seu período no Manchester United. O Manchester United teve "mais êxito graças a um guarda-redes dinamarquês, Peter Schmeichel, à liderança de um irlandês, Roy Keane, e à habilidade do francês Eric Cantona", escreveu numa mensagem divulgada na sua página no Facebook. "Vivemos em um mundo vibrante e conectado, no qual unidos somos mais fortes. Por nossos filhos e pelos filhos de nossos filhos, deveríamos enfrentar os problemas do mundo juntos, e não sozinhos. Por estas razões, votarei a favor da permanência na UE", concluiu.
Beckham juntou-se, assim, à escritora J.K.Rowling, ao empresário Richard Branson e aos atores Ian McKellen e Idris Elba na lista de personalidades a pedir voto a favor da UE. Do outro lado, os atores Michael Caine, John Cleese e o cantor Roger Daltrey pedem voto pela saída do bloco europeu. Além disso, 96 reitores de universidades britânicas defenderam a permanência na UE. "O isolamento do maior bloco económico do mundo afetaria nossa posição como líder mundial em ciência e educação", alertaram em uma carta publicada pelo jornal The Independent.
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