Por: Denise Fernandes da agência Lusa
Maria José Patrão, 82 anos, que já tem a vacinação completa desde 19 de junho, mas ainda não pediu certificado digital, esperava por uma mesa para seis pessoas numa das esplanadas do Largo do Coreto para ir comer sardinhas assadas com a família.
A octogenária disse estar “furiosa” com as mudanças constantes das regras, que desde hoje ditam a obrigatoriedade de certificado digital ou teste negativo para acesso ao interior dos restaurantes aos fins de semana e às sextas-feiras a partir das 19:00, nos concelhos mais afetados pela pandemia.
“Ouvi há bocado [as regras] e tem de se fazer isto, tem de se fazer aquilo, e o que eu fixei é que se a pessoa for para dentro [do restaurante] são uma regras, se ficar nas esplanadas são outras e isso deixou-me logo furiosa”, afirmou em declarações à Lusa.
Philip Kirkby, artista plástico, 47 anos, sentado na esplanada com a família à espera do jantar, disse que concorda com as medidas, mas admitiu que não faria um teste à covid-19 de propósito só para poder entrar num restaurante.
“[A exigência de] certificado parece-me bem. Já os testes, da farmácia sim, mas já fazer nos restaurantes, é impraticável”, afirmou, realçando a sua preferência sempre por esplanadas, sobretudo em noites quentes de verão, como é o caso.
Também Sandra, 54 anos, disse que opta “sempre” por esplanadas por se sentir “mais à vontade” por causa da covid-19 e que a sua escolha pelo espaço exterior não está associada às novas restrições.
“Eu já tenho duas vacinas e faço testes de 15 em 15 dias, mas sinto-me à vontade cá fora e lá dentro não”, adiantou à Lusa.
Já do lado dos proprietários dos restaurantes, mesmo dos que têm as esplanadas cheias, as queixas são muitas.
“As medidas são desproporcionadas, são uma perseguição aos restaurantes”, sublinhou Tiago Morais, dono do restaurante “O Miudinho”.
Para o empresário, as novas regras que permitem a abertura dos restaurantes até às 22:30 com a exigência de teste ou certificado aos clientes são um “falso positivo” porque “acabam por passar a ideia de que é só nos restaurantes que há covid-19”.
“Em termos de confiança, as pessoas sentem-se menos confortáveis a vir a restaurantes”, acrescentou Tiago Morais, que contava com a esplanada do seu estabelecimento bem composta, mas sem clientes no interior do espaço.
“Nós não somos propriamente técnicos de saúde”, disse ainda sobre a exigência de testes à covid-19 para acesso aos restaurantes.
Francisco Ramos, empregado de mesa no “Carvoeiro de Carnide” refere igualmente que “é um pouco complicado” para os trabalhadores da restauração estarem “a controlar quem tem teste negativo” porque “isso limita um pouco o trabalho”.
Segundo contou, os meros dez clientes no amplo espaço interior do restaurante “tem tudo certificado”, ninguém com teste.
“Não permitimos mesmo entrar [sem certificado nem teste negativo] porque a multa também é para nós”, garantiu o empregado de mesa.
Por seu turno, João Yamazoe, da “Adega das Gravatas”, restaurante que fica ali ao lado, mas que não tem esplanada, lamentou a fraca clientela numa noite de sábado, quando habitualmente há casa cheia.
“Está fraco, bem fraco. Estas medidas, para já, não resultaram”, desabafa João Yamazoe, contando que lá dentro estão apenas dois clientes mais idosos com certificado digital.
O pequeno restaurante “Instintuus”, a poucos metros dali, também sem esplanada, não tinha um único cliente à hora do jantar.
“Não conseguimos ter ninguém”, lamentou o dono do restaurante, Daniel Murteira, explicando que no verão o seu restaurante, que compete com as várias esplanadas do Largo de Carnide, já tem habitualmente menos gente, mas não como hoje, em que não há uma cadeira ocupada.
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