Em declarações à Lusa, o presidente da SPR, Luís Cunha Miranda, diz que os opioides são “um flagelo nalguns países, por abuso, uso indevido e prescrição indevida” e lembra que é preciso insistir na caracterização da dor pela doença de base.
“É preciso fazer a avaliação da origem da dor. Nós temos uma escala da dor, mas uma coisa é a gravidade da dor, a outra é o tipo de dor”, se é inflamatória ou degenerativa, afirma o especialista, sublinhando que pode ser contraproducente tratar determinadas dores com opioides.
“Nalguns casos, se calhar o opioide é desnecessário, porque tem os seus riscos, e o anti-inflamatório ou o corticoide até podem funcionar melhor, mas para isso é preciso fazer um diagnóstico precoce e individualizado”, defende.
Numa posição científica assumida num artigo assinado por diversos especialistas, entre os quais o presidente da SPR, a que a Lusa teve acesso, os reumatologistas assumem a necessidade de regras para definir as situações em que deve ser usados opioides, para evitar o uso extemporâneo, apoiando assim, por exemplo, os médicos de medicina geral e familiar.
Defendem que não há indicações universais, que o doente tem de ser avaliado de forma individual, que “é preciso esse o diagnóstico da doença de origem e que deve ser seguido um plano terapêutico individualizado, que muitas das vezes nunca passara pelos opioides”.
“Há aumento crescente da prescrição dos opioides. Há crescentemente uma necessidade de controlo da dor, mas a forma como está a ser feito é desorganizada”, diz também Luís Cunha Miranda, que lembra que “todas as unidades da dor deveriam ser multidisciplinares, com reumatologistas, neurologistas, anestesiologistas e psiquiatras, por exemplo”.
O presidente da SPR diz ainda que os planos nacionais segmentares para as diversas doenças por vezes não são avaliados e recorda a dificuldade de acesso aos reumatologistas: “51% dos hospitais não têm reumatologia, não é porque não haja médicos desta especialidade, é porque os hospitais não sentem essa necessidade”.
“Com isso, limitam os diagnósticos precoces, aumentam as incapacidades e as pessoas continuam a cair nos cuidados continuados porque não é feito o diagnóstico precoce, não é tratada a doença e não é tratada a pessoa. Mais do que a dor, devemos tratar a pessoa”, defende.
Luís Cunha Miranda explica que a própria avaliação dos hospitais, em vez de ser feita apenas com base no número de consultas e nos tempos de cirurgia, por exemplo,”deveria ter em conta o número de especialistas que faltam, e de que especialidades, tendo em conta as redes de referenciação hospitalar que estão publicadas”.
“Para mim, a forma como se avaliam os hospitais, é pensar ao contrário”, acrescenta.
O especialista insiste na necessidade de melhorar o acesso à reumatologia e lembra que as doenças musculoesqueléticas são das mais prevalentes em termos de dor crónica não oncológica.
“Se tivesse um diagnóstico precoce, acesso à reumatologia e uma boa decisão terapêutica, grande parte dos doentes não se reformaria, só uma pequena percentagem iria precisar de opioides e quase nenhuns chegariam a ir para cuidados continuados”, insiste o especialista.
Segundo os dados da SPR, as doenças reumáticas, por ano, têm um impacto económico de mil milhões de euros: “além do absentismo, estes doentes têm o que se chama de ‘presentismo’, o que significa que, em muitos casos, não faltam ao trabalho, estão lá, mas com limitações que não lhes limita a capacidade de produção”.
“Estes valores poderiam ser reduzidos para menos de metade se houvesse uma estratégia nacional para prevenção e diagnóstico destas doenças”, acrescenta.
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