“Estamos a falar de um escasso número de pessoas que ficou a dever milhões e milhões à Caixa Geral de Depósitos [CGD] e ao Novo Banco [que ficou com os ativos e passivos de qualidade do BES - Banco Espírito Santo]. Nalguns casos, serão provavelmente os mesmos de um lado e de outro. Mas, se não temos capacidade para melhorar a qualidade de vida das pessoas e o poder compra dos funcionários públicos, digam, pelo menos, quem são os principais responsáveis por isso ter acontecido”, afirmou Rui Rio.

O líder do PSD falava no encerramento do 25.º Congresso da Juventude Social Democrata (JSD), na Póvoa de Varzim, referindo-se ao Programa de Estabilidade apresentado na sexta-feira pelo Governo, em relação ao qual concluiu não existir “nenhum milagre nem uma economia fluorescente”, porque “a melhoria económica é tão fraca que ainda não permite aumentar o poder de compra dos funcionários públicos”.

“Por que é que o Governo se recusa a dizer quem foram aqueles credores, hoje devedores da banca, que ficaram com o nosso dinheiro e não estão capazes de devolver a quem lhes emprestou as verbas que nos fazem agora não ter os aumentos que era justo que pudéssemos ter?”, questionou Rio.

Segundo o líder do PSD, “repor o poder de compra dos funcionários públicos custaria 300 milhões de euros” e “só na CGD e no Novo Banco o Estado meteu um total de oito mil milhões de euros”, o que “são 25 vezes mais do que os 300 milhões de euros”.

“Os funcionários públicos vão ver, mais uma vez, o seu poder de compra reduzido. O Governo repôs os cortes [nos salários]. Mas os salários sofreram uma erosão acumulada com a inflação. Há que tirar uma conclusão: não há nenhum milagre económico nem a economia nacional é fluorescente”, afirmou.

Para Rio, o Programa de Estabilidade “pinta Portugal e a economia de tintas cor-de-rosa com algum toque de vermelho”.

“De acordo com as previsões do Governo, podemos ter uma certeza absoluta: se correr bem, daqui a cinco anos Portugal está mais atrasado do que hoje em relação à média comunitária”, afirmou.

“Se lhes correr bem, temos a certeza de que vamos ficar pior”, frisou.

Segundo Rui Rio, o crescimento de 2,3% assinalado pelo Governo não se deve a reformas por ele implementadas, mas “ao poder de arrasto da economia mundial, que está a crescer, por mérito dos empresários e não das políticas públicas”.

Para Rio, o governo socialista fez com o IRC - Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas “o contrário do que deve ser feito”.

“O Governo devia baixar o IRC, até devido a um acordo feito com o PSD quando este ainda governava. Mas este Governo aumentou o IRC em 2%. Assim não pode pedir mais investimento às empresas”, notou o líder do PSD.

Esclarecendo que a subida no IRC é superior para empresas com “mais de 35 milhões de euros de lucro”, Rio vincou que, com isto, o governo do PS está “a dizer às empresas que não cresçam”.

“O lucro não é mau. É o lucro que faz andar a economia e paga salários”, frisou.

Admitindo uma diminuição no desemprego, o social-democrata alertou para que “o emprego tem crescido mais do que o produto”, pelo que “a produtividade está a baixar” e os salários pagos são “mais baixos”.

“Está-se a criar emprego de baixo perfil, de baixos salários, e não empregos de qualidade”, lamentou.

No Programa de Estabilidade apresentado na sexta-feira, o Governo reviu em baixa a meta do défice deste ano para 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), face aos 1,1% inscritos no Orçamento do Estado para 2018.

O executivo reviu em alta a estimativa de crescimento económico para este ano, de 2,2% para 2,3%, e anunciou uma previsão de taxa de desemprego de 7,6%, de taxa de inflação de 1,4% e uma descida da dívida pública para 122,2% do PIB,

Em 2017, a economia portuguesa cresceu 2,7% e o emprego avançou 3,3%. O défice orçamental ficou nos 0,9% do PIB, sem a contabilização da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), operação que fez subir o indicador para 3%.


Última atualização às 17:06