Em entrevista à Associated Press, Arthur Brand disse que tomou posse da pintura "Portrait de Dora Maar", também conhecida por "Buste de Femme (Dora Maar)", de 1938, há duas semanas, depois de a ter procurado durante anos em Amesterdão.

Arthur Brand, um detetive de renome, cujas descobertas anteriores incluem um par de cavalos de bronze esculpidos por Joseph Thorak para Adolf Hitler e um mosaico com 1600 anos (devolvido ao Chipre), entregou o quadro, que ele estima valer cerca de 25 milhões de euros, a uma companhia de seguros, não tendo ficado claro o que aconteceria com a pintura.

O detetive disse que soube tratar-se do quadro real assim que lhe pegou e tirou os dois sacos de plástico que cobriam a tela.

"Sabes que é um Picasso porque há alguma magia a sair dele", explicou à agência norte-americana.

Mas essa não era a única razão pela qual Arthur Brand estava convencido da autenticidade do quadro, uma vez que, em casos de arte roubada, a parte de trás de uma pintura pode dizer aos especialistas mais do que a parte da frente, explicou o detetive.

Brand afirmou que desde o roubo no iate, ancorado no porto de Antibes da Riviera Francesa, uma série de falsificações foram oferecidas às seguradoras e, posteriormente, rejeitadas.

"Um falsificador nunca sabe o que a parte de trás aparenta", disse Brand, sem especificar o que lá estava, "quando eu vi a parte de trás da pintura, sabia que era a verdadeira”.

Duas décadas depois do roubo e sem nenhuma pista, a polícia francesa parecia resignada e o retrato da companheira e musa de Picasso, que estava na casa do pintor até à sua morte em 1973, parecia perdido para sempre.

Mas o detetive começou a sua última busca logo após ouvir rumores sobre o roubo.

"Finalmente, localizei alguém que o tinha em sua posse há dez anos, mas ainda levei três anos para me aproximar dele", explicou Arthur Brand.

O detetive acredita que a pintura tenha circulado no submundo do crime da capital holandesa: "Foi usado como algum tipo de dinheiro, como pagamento de drogas ou negócios de armas".

"Dois representantes de um empresário holandês entraram em contato, dizendo que o seu cliente tinha a pintura", contou Brand à AFP. De acordo com as suas informações, o empresário "pensou que o Picasso era parte de um negócio legítimo", mas, se "negócio foi realmente legítimo, o método de pagamento não foi", explicou Brand.

O detetive alertou imediatamente as polícias da Holanda e da França. As autoridades francesas já haviam encerrado o caso e, diante do atual cenário, informaram que não vão processar o empresário e atual proprietário da obra.

Brand afirmou que era necessário agir rapidamente para evitar o novo desaparecimento da obra. "Eu disse aos intermediários: 'é agora ou nunca, porque o quadro provavelmente está em mau estado. Temos de agir o mais rápido possível".

Finalmente, há pouco mais de uma semana, Brand abriu a porta do seu modesto apartamento na capital holandesa e ali estavam os dois intermediários com a obra. "Coloquei o Picasso na minha parede durante uma noite e transformei o meu apartamento num dos mais caros de Amsterdão por um dia", afirmou Brand, sem conter as gargalhadas.

No dia seguinte, um especialista na obra de Picasso da galeria Pace (Nova Iorque) voou a até Amsterdão para comprovar a autenticidade num local seguro. Também esteve presente o detetive britânico Dick Ellis, fundador da unidade da Scotland Yard sobre arte e antiguidades, e que viajou em representação de uma seguradora não identificada.

"Não há dúvidas de que é o Picasso roubado", disse Ellis à AFP. O detetive é famoso por ter recuperado várias obras roubadas, inclusive "O Grito", de Edward Munch, que foi levado da Galeria Nacional da Noruega em 1994.

O chefe da equipa de arte e criminalidade da Polícia Nacional Holandesa, Martin Finkelnberg, saudou a recuperação, apesar de não terem sido feitas quaisquer detenções.

Finkelnberg disse ao diário nacional holandês De Volkskrant que ter uma pintura assim “pode ser um fardo e entregá-la ao detetive Arthur Brand é uma saída”.

"Feito. Todos estão felizes. A coisa mais importante é que a obra de arte está de volta”, afirmou Martin Finkelnberg.

*com agências