“Obviamente, alguém cometeu um erro – um grande erro – e incluiu um jornalista. Não tenho nada contra os jornalistas, mas não é suposto estarem nesse painel”, disse Rubio, referindo-se ao grupo da plataforma digital de mensagens Signal que incluía o secretário da Defesa, Pete Hegseth, e vários outros altos responsáveis do Pentágono e da CIA (agência norte-americana de serviços secretos externos), numa conferência de imprensa em Kingston, na Jamaica.

Também participante do grupo de mensagens em que ocorreu uma grave violação da segurança militar revelada na segunda-feira pelo jornalista Jeffrey Goldberg, chefe de redação da revista The Atlantic, o vice-presidente norte-americano, JD Vance, acusou hoje Goldberg de ter “exagerado” a importância da informação revelada.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, um dos membros de cuja equipa inadvertidamente incluiu o jornalista nessa discussão confidencial, escreveu na mesma plataforma: “Não há locais. Sem fontes ou métodos. SEM PLANOS DE ATAQUE”, numa tentativa de desacreditar a publicação, na terça-feira, pela prestigiada revista, de uma mensagem retirada desta conversa na plataforma digital Signal e que pormenorizava os ataques aéreos dos Estados Unidos contra os rebeldes Huthis no Iémen.

Depois de o Governo do Presidente Donald Trump ter afirmado, na terça-feira, que as trocas de impressões sensíveis entre altos responsáveis que a revista tinha relatado no dia anterior não estavam protegidas pelo segredo de Defesa, The Atlantic publicou hoje novo artigo com mais informação sobre o caso.

Desta vez, a revista norte-americana divulgou capturas de ecrã de mensagens do secretário da Defesa – com o calendário exato dos ataques planeados contra o grupo rebelde iemenita aliado do Irão e as armas a utilizar -, enviadas duas horas antes dos ataques de 15 de março, numa discussão de grupo no Signal.

“Não havia pormenores, não havia nada que comprometesse [a operação] e não teve qualquer impacto no ataque, que foi um grande êxito”, comentou Trump numa entrevista hoje divulgada concedida ao ‘podcaster’ Vince Coglianese.

“NÃO eram planos de guerra”, reagiu também a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, lançando uma resposta agressiva e altamente coordenada na rede social X (antigo Twitter).

“Está a mentir para sustentar um NOVO embuste”, escreveu o chefe de gabinete adjunto da Casa Branca, Taylor Budowich, referindo-se à The Atlantic.

Donald Trump já tinha minimizado esta fuga de informação na terça-feira, descrevendo-a como uma simples “falha” denunciada por um jornalista “perverso”.

“Não foi partilhada qualquer informação confidencial” neste grupo de discussão, declarou também na terça-feira a diretora dos serviços secretos dos Estados Unidos, Tulsi Gabbard.

“Eles mentiram. Claro que mentiram”, reagiu hoje na rede social X um democrata sénior, Pete Buttigieg, antigo secretário dos Transportes.

No novo artigo, a revista conta que, após estas declarações, contactou os responsáveis governamentais, afirmando que as mensagens não eram ultrassecretas, para lhes perguntar se concordavam com a publicação de mais mensagens, mais precisas do que as referidas no primeiro artigo.

A Casa Branca opôs-se, indicou The Atlantic, que, no entanto, publicou o essencial da trocas de mensagens, ocultando apenas o nome de um agente da CIA.

“12:15 — DESCOLAGEM dos F-18 (primeiro grupo de ataque)”, escreveu o chefe do Pentágono aos outros membros do grupo a 15 de março.

“O alvo terrorista está na sua área conhecida, por isso DEVEMOS CHEGAR A HORAS – e também, início dos ataques de ‘drones’ (MQ-9)”, acrescentou, num estilo telegráfico.

E ainda: “15:36 – F-18 início do segundo ataque – e também, lançamento dos primeiros Tomahawks do mar”.

Os F-18 são aviões de combate norte-americanos, o MQ-9 é um ‘drone’ (aeronave não-tripulada) de combate norte-americano e os Tomahawks são mísseis de cruzeiro.

Os Huthis afirmam que estes ataques norte-americanos mataram cerca de 50 pessoas e feriram uma centena.

Na terça-feira, Donald Trump tinha apenas afirmado que Mike Waltz “provavelmente” se absteria, “no futuro imediato”, de voltar a utilizar o sistema de mensagens privadas Signal.

Desde segunda-feira, a oposição democrata tem atacado o Governo de Trump por causa deste caso. O senador Mark Warner, em particular, condenou a “atitude negligente, imprudente e incompetente” dos membros da equipa do Presidente republicano.

A organização não-governamental American Oversight, que luta por uma maior transparência nos assuntos públicos, levou vários dos altos responsáveis em causa a tribunal, alegando que violaram a legislação sobre comunicações oficiais ao utilizarem o Signal.