Numa entrevista à Lusa, o líder do PSD referiu-se a António Costa, dizendo que não o desiludiu como primeiro-ministro, mas que esperava que tivesse tido “mais ousadia para reformar e para melhorar” o país.
“Eu acho que qualquer acordo, seja com que partido for, seja como for, tem de ser sempre por escrito”, disse Rui Rio, ao abordar o tema da necessidade das reformas estruturais, como a do sistema político, segurança social, descentralização e justiça. “Mesmo por escrito, às vezes é preciso pedir a terceiros para interpretar o que ambos queriam dizer”, acrescentou, em tom irónico.
Para o líder do PSD, que nos últimos tempos tem endurecido o tom de crítica ao governo, há ainda tempo para inverter a tendência eleitoral, que aponta para uma vitória folgada do partido no poder.
“Eu tenho consciência de que o PS vai à frente”, afirmou, sublinhando que tem “os pés assentes na terra”, mas os 30 dias que faltam até às eleições “são mais do que suficientes para inverter [essa tendência]”. Segundo Rui Rio, que disse partir não do patamar das sondagens, mas do sentir das pessoas, o fator fundamental é ele ser uma pessoa conhecida, “que já cá anda há muitos anos” e não um líder “nascido das guerras partidárias”.
“Eu comecei na política antes do 25 de Abril, de uma forma mais visível como deputado, há 20 e tal anos. É por isso que eu digo que está tudo em aberto [caso contrário], se as pessoas não me conhecessem, 30 dias para me conhecerem era curto”, sublinhou.
Segundo Rui Rio, o que o leva a ter essa convicção é o que vê na rua, “a margem de indecisos, mas indecisos sinceros, pessoas que querem votar, mas não sabem mesmo como [porque] do governo não gostam, olham para a oposição e ainda não sentiram que se tivesse afirmado”.
Questionado como fará para marcar as posições entre PSD e PS perante um eleitor do centro, que diz ser aquele que disputa com este último partido, Rio declarou que será com duas diferenças fundamentais: “uma relativamente à governação em concreto, que tem diferenças”, embora não “gigantescas”, mas “claras” e a outra “com a postura e com a forma de ser”.
“Está a mentir ou não está a mentir? Faz ou não faz?”
“Eu acho que o que nós temos é de incutir confiança no eleitorado, que somos capazes de fazer aquilo que as pessoas querem que seja feito e que isto não é só conversa”, asseverou, para destacar que isso “é que é fundamental” para o eleitor: “Está a mentir ou não está a mentir? Faz ou não faz?”.
É nessa perspetiva que Rui Rio conta com o potencial do seu “historial” político e no qual assenta a sua convicção de que “isto é tudo reversível”, mesmo reconhecendo que “a dinâmica do governo é maior do que aquela que foi a da oposição”.
Nesta entrevista à Lusa, Rui Rio afirmou ainda que as críticas que tem feito sobre o aumento do endividamento externo devem ser vistas como alertas de “um caminho errado” que deve ser invertido.
“Nada disto quer dizer que a ‘troika’ aparece cá depois do Natal”, salientou.
O líder do PSD foi mais contundente em relação a anteriores governações socialistas, que disse terem tido, em média, “défices externos de 10% do PIB”.
“Só podia acabar com uma ‘troika’, era um disparate. A dra. Manuela Ferreira Leite explicou isto à saciedade, as pessoas não quiseram ouvir. Mesmo que tivesse ganho as eleições já não haveria muito a fazer, o destino já estava traçado. Aquilo foi ali mais um ano e tal, e ‘pumba’, como se costuma dizer”, lamentou.
“Não tenho um particular entusiasmo em ser deputado, não tenho."
Nesta entrevista à agência Lusa, Rui Rio foi questionado como encara o seu regresso à Assembleia da República – foi deputado entre 1991 e janeiro de 2002, quando saiu para assumir a presidência da Câmara do Porto -, quase duas décadas depois.
“Não tenho um particular entusiasmo em ser deputado, não tenho. Fui deputado dez anos numa altura em que o parlamento tinha um nível qualitativo inferior ao que tinha tido antes, mas muito superior àquilo que tem hoje. Se mesmo quando eu saí, já achava que o parlamento se estava a degradar e não entusiasmava assim tanto, entretanto ainda se degradou mais, não é função que me entusiasme completamente”, afirmou.
Ainda assim, Rio irá assumir o mandato – é número dois pelo Porto –, mas garante que não faria o que vê muitos fazer, no seu partido e em outros, que é “até chorarem para serem deputados”.
Questionado se irá cumprir o mandato até ao fim, Rio não se compromete. “Isso vai depender naturalmente daquilo que for o futuro do PSD e de eu próprio no PSD, poderei ficar ou não ficar de uma forma ou de outra”, afirmou.
Sobre o seu futuro político, Rio escusou-se a falar sobre cenários antes das eleições legislativas. “O cenário mais provável não é nenhum. Eu estou aqui até o dia 6 de outubro para fazer o melhor resultado possível, sendo que o melhor possível é ganhar. O que acontece no dia 7, 8, lá mais para o dia 10, o que vou fazer depende da análise global que faça, que outros façam”, afirmou.
O líder do PSD rejeitou que possa tomar uma decisão a quente na noite das eleições sobre o seu futuro político – “não tenho 30 e tal anos nem 40” –, se os resultados forem dentro de “padrões de normalidade” “Se o PSD tivesse 10% também não era a quente, era a frio. Se tivesse 50% também não há decisão nenhuma a tomar, dentro do que são os padrões de normalidade logo se vê”, afirmou, em tom irónico.
Tal como já afirmara em entrevista à TVI, Rio explicou que a decisão que irá tomar dependerá da análise que fizer, após às eleições, se é ou não “útil ao país com esta função e com esta idade”.
" ,,, nunca é a lista que o líder sozinho se pudesse fazer escrevia e mandava para conhecimento às distritais e depois ao tribunal”
Sobre as polémicas na constituição das listas, deixou a convicção de que nenhum líder do PSD até hoje teve a bancada que desejava a 100%, já que a escolha dos deputados resultado sempre resultou de negociações e equilíbrios.
“Desde Sá Carneiro até mim, passando por Cavaco Silva, nunca é a lista que o líder sozinho se pudesse fazer escrevia e mandava para conhecimento às distritais e depois ao tribunal”, assegurou, lamentando que não tenha sido possível incluir algumas pessoas que sempre lhe foram leais e a quem reconhecia valor.
O líder do PSD rejeitou ainda que não haja sinais de abertura na lista de deputados e, sem ter as contas feitas, admitiu que talvez metade dos cabeças de lista que escolheu não tenha sido sempre a seu favor, “entre os que estiveram com o Santana [Lopes, seu adversário na candidatura à liderança] ou que no ‘golpe de Estado’ de janeiro mudaram de lado”.
Esse ‘golpe’ refere-se ao desafio lançado em janeiro por Luís Montenegro para que Rio convocasse eleições diretas antecipadas, e que o líder classifica como “uma ação de desespero, tendo em vista condicionar as listas das europeias e as outras”.
Na campanha, não sabe se terá Montenegro a seu lado, e garante ainda não ter feito convites a ex-líderes para esse período. “Não sei com quem é que vou estar ao lado, sou candidato pelo Porto, vou fazer a volta nacional, mas a minha obrigação é fazer um bocadinho mais no Porto”, disse.
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