O evento, conduzido por Rui Tavares, reuniu cerca de uma dezena de pessoas em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, para debater o projeto que se propõe a reformular a União Europeia "como ela é hoje".
Sobre o movimento Primavera Europeia, do qual o partido Livre faz parte, Rui Tavares explica que este “é um movimento transversal e amplo”, que engloba desde movimentos ecológicos a partidos com uma valência mais trabalhista e sindical, mas que “também junta cidadãos que se revejam nestes valores e no objetivo de democratizar profundamente a União Europeia”.
O fundador do Livre explicou que a Primavera Europeia funciona como "um partido claramente progressista, que queremos que tenha, à escala europeia, a cara de gente com as suas histórias, as suas tradições ideológicas diferentes" e acredita que “a existência de movimentos deste género vai catalisar, no futuro, que apareçam movimentos semelhantes noutras áreas políticas”.
Já o antigo presidente do Governo Regional dos Açores Mota Amaral admitiu, em declarações à agência Lusa, que vê este movimento como uma “ideia engraçada, mas [que], como se viu nesta reunião, é uma ideia a longo prazo”, acrescentando que “no imediato, o que é preciso é uma mobilização dos cidadãos para as eleições que se vão realizar no mês de maio do próximo ano”.
A mobilização dos eleitores preocupa o social-democrata que, durante a discussão, referiu que, em São Miguel, o dia das eleições europeias, que se realizam a 26 de maio, coincide com o dia da procissão do Santo Cristo, as maiores festividades religiosas da ilha, um facto que deverá aumentar muito a abstenção, lamenta.
O ex-governante açoriano mostrou-se interessado numa “melhor democracia na Europa”, ressalvando, contudo, que, “se o esquema é aquele que propõe a Primavera Europeia, é uma questão discutível”.
Para o historiador Rui Tavares, a presença de Mota Amaral no encontro evidencia que “a ideia de democratizar a União Europeia não é uma ideia contra as democracias nacionais, é uma ideia a favor das democracias nacionais”.
Esta é uma prática que Rui Tavares acredita que os açorianos conhecem bem, “porque autonomizar e depois democratizar a região dos Açores, nunca foi uma ideia contra a democracia na república portuguesa. Pelo contrário, a democracia em Portugal, como um todo, sai beneficiada, sai mais forte, por haver democracia regional nos Açores e na Madeira”.
Um dos princípios fundamentais que defende é que “a democracia funcione às várias escalas onde nós temos problemas: democracia local para problemas locais, regional para problemas regionais, nacional para problemas nacionais, europeia para problemas continentais, ou até para problemas globais”.
“E que isso seja entendido por pessoas de outros partidos, também, só nos alegra, porque mostra que há muita gente que percebe isso, mesmo que as direções dos seus próprios partidos não estejam interessadas em expandir a democracia desta forma que nós defendemos”, afirma.
O movimento debatido ontem em Ponta Delgada junta partidos e cidadãos europeus num programa comum e pretende lutar por uma União Europeia mais democrática e transparente.
O programa, “construído de forma participada à escala pan-europeia”, assenta nos pilares da democratização da Europa, aprofundamento da solidariedade internacional, luta contra a pobreza e a exploração e a construção de uma prosperidade partilhada ecológica.
Propõe, ainda, um “processo constitucional que coloque os cidadãos europeus no centro do processo político”, através da consulta popular acerca da atual Constituição e da criação de uma nova, que deverá ser feita por uma Assembleia Constituinte Europeia, eleita pelos cidadãos.
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