Estas posições foram defendidas por Augusto Santos Silva, na qualidade de militante socialista e deputado do PS eleito pelo círculo Fora da Europa, numa sessão promovida pela JS, intitulada “Jornadas pela Democracia no Século XXI”.
Perante algumas dezenas de membros da JS, na sede nacional do PS, tendo ao seu lado Miguel Costa Matos, líder dos jovens socialistas, Augusto Santos Silva apontou que as últimas eleições legislativas, em janeiro de 2022, “reforçaram o peso eleitoral dos dois maiores partidos” nacionais.
“Portanto, esta ideia de que o PS e o PSD perderam toda a credibilidade, que já ninguém acredita neles, que o Bloco Central é uma desgraça, que os portugueses já não se reveem no Bloco Central, tem um pequeno problema: É contrária à realidade tal como nós sabemos a partir do último indicador objetivo disponível. Hoje, no parlamento, talvez 90% dos deputados pertencem aos dois maiores partidos, o que, aliás, tem sido sempre uma vantagem do sistema português”, sustentou.
De acordo com o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, o sistema português tem registado “uma lógica de alternância – e essa alternância faz-se ao centro do sistema e não nos seus extremos”.
“Temos de ter calma, porque aquilo que as pessoas lá fora nos dizem é muito diferente daquilo que ouvimos muitas vezes nos jornais ou nas televisões. O que as pessoas lá foram nos dizem é que em Portugal, por enquanto, o sistema partidário é muito estável”, advogou.
Mesmo em relação às eleições autarquias, em que existem candidaturas independentes, o presidente da Assembleia da República referiu que esse fenómeno tem um reduzido impacto global.
“Os triunfos de candidaturas independentes são exceção e não a regra. E sabemos que a maioria das candidaturas independentes resultam de conflitos internos nos partidos com a constituição de listas”, observou.
Por isso, na perspetiva de Augusto Santos Silva, o sistema político-partidário português é “bastante robusto” — um ponto em que aproveitou para deixar uma advertência sobre os riscos de fazer uma mudança profunda no atual sistema eleitoral.
“Recomendo vivamente que não se deixem ir em cantos de sereia quanto a substituições muito voluntaristas do sistema eleitoral, mesmo que ouçam o argumento de que há 600 mil votos de portugueses perdidos, desaproveitados pelo sistema de hondt. Um bom sistema eleitoral garante representatividade e governabilidade”, frisou.
Do ponto de vista ideológico, perante uma plateia maioritariamente de jovens socialistas, Augusto Santos Silva defendeu uma tese que assumiu ser controversa.
“A expressão mais forte e mais lídima, mais legítima, mais natural do liberalismo político clássico é a social-democracia, e em Portugal é o PS. Não é a Iniciativa Liberal. Há uma confusão terrível entre o liberalismo político clássico e o liberalismo económico e, recentemente, o neoliberalismo”, justificou, antes de recomendar a leitura de Francis Fukuyama.
“A democracia não é o liberalismo político. Mas a democracia é a extensão do liberalismo político ao sufrágio universal”, acrescentou.
Em relação à atual conjuntura política, deixou um recado aos partidos à esquerda do PS.
“Creio que os nossos amigos à esquerda correm o risco de cometer um pequeno erro de apreciação quando definem que o seu objetivo político principal é derrubar o atual Governo e alterar a atual composição do parlamento”, disse.
Se isso acontecer, de acordo com o ex-ministro, “avanços que se têm feito nos domínios das liberdades cívicas e pessoais seriam barrados” por um executivo liderado pelo PSD.
“Embora o nosso partido de centro-direita se chame social-democrata, nessas matérias a esmagadora maioria dos seus decisores são tudo menos social-democratas”, afirmou.
Comentários