“Estou muito interessado em que o ministro me explique a receita”, disse Borrell no início da conferência de imprensa que se seguiu à reunião que os dois tiveram pela primeira vez depois da chegada ao poder em junho do novo Governo socialista espanhol e antes de um almoço de trabalho.

Santos Silva aproveitou logo a seguir a pergunta de um jornalista para revelar a “receita”, começando por dizer muito diplomaticamente que não tinha “lições a dar”.

O chefe da diplomacia portuguesa explicou em seguida que, “no caso português”, havia “dois pontos essenciais” que elaborou em seguida: a rutura com a austeridade e um “acordo político” no parlamento com “palavras escritas” que permitiram um governo minoritário ter uma maioria parlamentar a apoiar aspetos essenciais, principalmente económicos.

“Agora é preciso saber como aplicar” esta receita e “conseguir que a maionese não se estrague”, disse em seguida Josep Borrel, acrescentando estar convencido de que a Europa “tem muito que aprender com o exemplo português”.

Pedro Sánchez tornou-se primeiro-ministro depois de o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ter aprovado no parlamento, em 01 de junho último, uma moção de censura contra o executivo do Partido Popular (direita) com o apoio do Unidos Podemos (extrema-esquerda) e uma série de partidos mais pequenos, entre eles os nacionalistas bascos e os independentistas catalães.

Ao contrário do caso português, em Espanha não há um acordo escrito entre esses partidos, sendo alguns dos mais pequenos de centro-direita, como o Partido Nacionalista Basco ou o Partido Democrata Europeu Catalão (independentistas).

O chefe da diplomacia espanhola constatou que os dois países ibéricos têm Governos europeístas e de esquerda que podem ter “um papel importante” no futuro “desenho” da Europa, nomeadamente no que diz respeito à política de migração e na finalização da união monetária.

Na reunião que tiveram, os dois ministros também prepararam a cimeira sobre interconexões elétricas que Portugal organiza na sexta-feira em Lisboa e em que o primeiro-ministro português, António Costa, vai receber o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

“Esperamos avanços concretos”, limitou-se a dizer Augusto Santos Silva, que espera que os anúncios importantes sejam feitos pelos chefes de Estado e de Governo na sexta-feira, “para que a península Ibérica não seja mais uma ilha da Europa do ponto de vista da energia”.

A resolução dos problemas de ligação elétrica entre a península Ibérica e o resto da Europa, através da França, é considerada uma questão estratégica para Portugal e Espanha, que já têm entre si um mercado único regional de eletricidade em regime de livre concorrência.

Borrell e Santos Silva também prepararam a habitual cimeira bilateral entre os dois países ibéricos que desta vez cabe à Espanha organizar “no outono”.