![Fumar poucos cigarros por dia faz mal à saúde?](/assets/img/blank.png)
Como dizia Oscar Wilde: “Resista a tudo menos às tentações”, e muitos não conseguem resistir ao pequeno prazer do cigarro ocasional, apesar de o limitarem.
Questionado pelo SAPO24, o médico Daniel Pires Coutinho, do Serviço de Pneumologia do Hospital de Vila Nova de Gaia, refere que "é comum ouvirmos entre a população portuguesa vários mitos associados ao tabaco, sendo um dos mais populares o de que fumar poucos cigarros por dia não é assim tão prejudicial ou é até mesmo inócuo. No entanto, a realidade e a evidência científica contrariam claramente esta crença".
"Diferentes estudos científicos demonstraram que fumar apenas um cigarro por dia aumenta de forma substancial o risco de doença cardiovascular e de AVC." Segundo o mesmo profissional de saúde, nas mulheres o risco corresponde a perto de um teço daquele vivido por fumadores de 20 cigarros por dia (31%), e nos homens este número ainda é mais elevado, representando perto de metade (46%).
Além disso, o médico sublinha que "fumadores com cargas tabágicas baixas apresentam também um elevado risco de mortalidade por qualquer causa. Pessoas que fumam 1-2 cigarros por dia têm quase o dobro do risco de mortalidade em comparação com não fumadores, e aqueles que fumam 3-5 cigarros por dia têm um risco ainda maior".
Atualmente, com as cidades cada vez mais urbanizadas e com o trânsito automóvel a aumentar, alguns fumadores socorrem-se ainda da lógica de que o que estão a consumir equivale a habitar nas cidades já poluídas à partida. A esta crença, o especialista responde que: "Embora viver numa cidade poluída seja prejudicial para a nossa saúde, fumar introduz diversas substâncias químicas nocivas de forma direta e em concentrações extremamente elevadas nos nossos pulmões, resultando numa exposição mais imediata e intensa a carcinogéneos e outras toxinas".
Assim, verifica-se um aumento dos riscos para a saúde dos fumadores a partir do primeiro cigarro, e ainda que os efeitos não sejam equivalentes aos de fumar uma quantidade maior, este é um hábito que segundo os médicos deve ser totalmente evitado, independentemente da quantidade consumida.
Recorde-se que no final do ano passado, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia classificou de "irresponsabilidade política" e "incompetência grave e inaceitável" a decisão do Governo de não aumentar os impostos sobre o álcool e o tabaco no contexto do Orçamento do Estado para 2025.
Em declarações à agência Lusa na altura, a coordenadora da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Sofia Ravara, afirmou que a decisão do Governo de não aumentar os impostos sobre estes produtos, "argumentando que é esperado um aumento do consumo", é de "uma incompetência grave e inaceitável".
A pneumologista alertou que "o tabaco e o álcool são produtos de consumo legais, mas letais", causando múltiplos cancros, doença respiratória crónica, doenças cardiovasculares, AVC e diabetes, doença hepática crónica, entre outras.
"Estas doenças têm o maior peso de doença, incapacidade e mortalidade prematura em Portugal e no mundo. Não só causam doenças crónicas, como agravam o prognóstico e as complicações destas doenças, levando a hospitalizações evitáveis por agudização da doença, sobrecarregando o SNS e ameaçando a sua sustentabilidade, escalando as despesas de saúde, diretas e indiretas (absentismo laboral e diminuição da produtividade)", sustentou.
Para a pneumologista, "o Governo não pode negligenciar o seu dever de proteger a saúde da população portuguesa, de fazer uma gestão eficiente dos dinheiros públicos, garantindo a sustentabilidade do SNS, privilegiando os lucros da indústria do tabaco e do álcool".
“No final, só estas indústrias saem vencedoras e não há dúvida nenhuma de que é a atividade destas indústrias que leva ao consumo”, disse, criticando que a sua atividade "arromba a economia das famílias e dos países" como demonstram contas feitas pela OMS e pelo Banco Mundial.
Comentários