Num comunicado hoje divulgado, a Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (APPIA) afirma assistir “com preocupação” à forma como o fenómeno “Baleia Azul” – fenómeno na Internet que estimula a automutilação e o suicídio - tem sido “tratado nos meios de comunicação social, com recurso a conteúdos sensacionalistas (que chegam a incluir imagens de cortes)”.

“Queremos manifestar o nosso claro desacordo com este tipo de tratamento e difusão da informação”, afirma a direção da associação, presidida por Teresa Goldschmidt, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência e Saúde Mental Infantil e Juvenil do Hospital de Santa Maria.

Segundo os psiquiatras, o tratamento noticioso que está a ser dado a comportamentos autolesivos em jovens está “em clara contradição com as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde]”.

Essas normas, já transpostas para o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, desaconselham “a linguagem sensacionalista” e recomendam “o evitar de imagens e de descrições explícitas dos métodos usados para atos suicidários e/ou comportamentos autolesivos”.

A razão prende-se com a propensão para a imitação que tais comportamentos geram nos outros.

“Os comportamentos autolesivos (tanto os suicidários como os não suicidários – vulgo “cortes”, “automutilações”) são altamente propensos a fenómenos de contágio e imitação, sobretudo em jovens adolescentes, podendo gerar verdadeiras ‘epidemias’”, alerta a associação.

Estes profissionais de saúde mental vão ainda mais longe e mostram-se convencidos de que isso já está a acontecer, “gerando uma onda de pânico nos familiares, cuidadores e comunidade, que não está a ser fácil de conter, e que potencia o fenómeno”.

“Face a esta situação, é essencial que os meios de comunicação social tenham uma atuação responsável, no sentido de minimizar (ou pelo menos não agravar) o efeito de contágio em curso, evitando usar expressões e projeção de imagens que glorifiquem ou reforcem esse efeito”, afirma a associação.

Os psiquiatras infantis reforçam ainda a ideia de que “a ‘baleia azul’ não é um jogo (num jogo ganha-se ou perde-se)”, desincentivando o uso deste termo, que pode ser considerado apelativo ou desafiador pelos jovens.

Na verdade – especificam -, a “Baleia Azul” é “um esquema de manipulação e abuso de menores e, como tal, deve insistir-se em não lhe chamar um jogo ou um desafio, uma vez que esses termos mais não são que engodos para cativar adolescentes mais influenciáveis e ingénuos”.

A APPIA lança ainda um repto às autoridades, assinalando que o “esquema baleia azul” é “um crime que exige a atuação” policial e judicial.

A associação lembra que “como em todas as situações de comportamentos predatórios, os mais suscetíveis são os mais frágeis, ou seja, os adolescentes mais imaturos, influenciáveis e sugestionáveis”.