Após a capitulação e o cessar-fogo acordado na quarta-feira, na sequência de uma ofensiva relâmpago lançada um dia antes por Baku, os separatistas estão a discutir a retirada das suas tropas, continuando com o processo de deposição das armas.

Este enclave montanhoso, que foi anexado ao território do Azerbaijão em 1921 pelos soviéticos, foi no passado palco de duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Azerbaijão e da Arménia: uma entre 1988 e 1994 (30.000 mortos) e outra no outono de 2020 (6.500 mortos).

“Em conformidade com os acordos de cessação das hostilidades, as formações armadas de Nagorno-Karabakh começaram a entregar as suas armas, sob o controlo das forças de manutenção da paz russas”, anunciou sexta-feira o Ministério da Defesa russo.

Até à data, foram entregues seis veículos blindados, mais de 800 armas ligeiras e cerca de 5.000 munições, informou o contingente russo de manutenção da paz.

As conversações entre as autoridades de Nagorno-Karabakh e a parte azeri, que começaram na quinta-feira “sob os auspícios das forças de manutenção da paz russas”, deverão permitir “organizar o processo de retirada das tropas e assegurar o regresso a casa dos cidadãos deslocados pela agressão militar”, segundo os separatistas.

As partes estão também a discutir “o procedimento de entrada e saída de cidadãos” da região, acrescentaram.

Tudo isto numa altura em que milhares de civis continuam a enfrentar uma emergência humanitária em Nagorno-Karabakh, cuja “capital”, Stepanakert, está, segundo as autoridades locais, cercada por soldados azeris.

Yana Avanessian, professora de direito de 29 anos, natural de Stepanakert, tal como muitos outros arménios que conseguiram contactar os seus familiares, afirma que a situação é “horrível”.

“Esperamos que as evacuações sejam feitas em breve, especialmente para as pessoas cujas casas foram destruídas”, disse a jovem à AFP no posto de controlo arménio de Kornidzor, muito perto de Nagorno-Karabakh.

Segundo a AFP, Stepanakert está sem eletricidade e sem combustível e a população, que não consegue encontrar familiares desaparecidos devido à falta de listas de mortos e feridos, debate-se também falta de alimentos e de medicamentos.

As tropas azeris “estão à volta de Stepanakert, estão nos arredores”, disse à AFP Armine Hayrapetian, porta-voz das autoridades locais, afirmando que as pessoas se escondem “nas caves”.

De acordo com um conselheiro do Presidente Ilham Aliev, o Azerbaijão prometeu ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) enviar ajuda e tratar os soldados separatistas feridos, com ambulâncias autorizadas a viajar da Arménia para Nagorno-Karabakh.

Segundo os separatistas arménios, a operação militar azeri, que terminou em 24 horas ao meio-dia de quarta-feira, fez pelo menos 200 mortos e 400 feridos.

A vitória de Baku está a alimentar o receio de que muitos dos 120.000 habitantes do Nagorno-Karabakh partam, apesar de a Arménia ter prometido que não está prevista qualquer retirada em massa. No entanto, a Arménia disse estar preparada para acolher “40 mil famílias” de refugiados.

Acusado de passividade em relação ao Azerbaijão, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, admitiu sexta-feira que “a situação” continua “tensa” no Nagorno-Karabakh, onde “a crise humanitária continua”.

Mas “há esperança de uma dinâmica positiva”, acrescentou o chefe do Governo arménio, para quem o cessar-fogo tem sido, “de forma geral”, respeitado.

As pessoas hostis a Pashinian manifestam-se todos os dias em Erevan, para protestar contra a gestão da crise por parte do executivo e vários líderes da oposição anunciaram igualmente a intenção de dar início a um processo de destituição do chefe do Governo no Parlamento.

De acordo com a polícia arménia, 98 manifestantes foram detidos na sexta-feira, numa altura em que Pashinian tinha apelado à calma e ao “caminho” para a paz.