O projeto-piloto “100 açúcar” pretende promover hábitos alimentares mais saudáveis nas crianças até aos três anos através dos infantários, onde passam grande parte do dia.
“Iogurte com bolacha, iogurte aromatizado, papa com adição de açúcar, lanches sem fruta, douradinhos e salsichas e ‘coisas’ processadas não devem estar em ementas infantis”, exemplificou hoje à agência Lusa a coordenadora do projeto, Cátia Moura, enfermeira no Centro de Saúde de Sines, no distrito de Setúbal, onde acompanha a área de Saúde Infantil.
Lembrando que o surgimento de doenças “associadas ao estilo de vida” está a “aumentar” e que “há crianças com diabetes cada vez mais cedo”, Cátia Moura considerou importante envolver as escolas na promoção de hábitos alimentares saudáveis.
“As escolas têm que ser exemplo e têm que ter ementas e práticas que se rejam por aquilo que é conhecimento e é evidência científica que o açúcar refinado não deve fazer parte da alimentação diária de uma criança dos zero aos três anos, tal como o sal”, defendeu.
Através do projeto “100 açúcar”, profissionais do Centro de Saúde de Sines, em colaboração com a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA) e a Unidade de Saúde Pública, vão analisar e ajudar a preparar ementas mais saudáveis, mas também vão promover ações de formação para funcionários, educadores e pais.
As instituições de educação que aderem ao projeto assinam uma “carta de compromisso”, em que concordam aplicar “dez mandamentos” sobre a “adoção de um estilo de vida saudável”, explicou Cátia Moura.
No final de cada ano, é feita uma avaliação de cada estabelecimento aderente e, no caso de ter cumprido o estipulado no projeto, é atribuído “um selo” de certificação.
“Não oferecer alimentos com adição de açúcar”, “proibir a entrada de doces e refrigerantes na escola” e “cumprir e respeitar a roda dos alimentos” são alguns dos “mandamentos” com que se comprometem os infantários aderentes.
O projeto foi bem recebido por Carla Santos, diretora de um dos infantários aderentes em Sines, considerando que a implementação “não vai ser difícil”, mas reconheceu, no entanto, que “mudar mentalidades” pode ser “desafiador”.
“Acredito que até ao final deste ano letivo a gente já tenha alterado algumas coisas e que no início do próximo ano letivo já sejamos ‘100açúcar’”, sublinhou.
O “100 açúcar” é um projeto-piloto que vai, para já, ser aplicado nas instituições com creche O Capuchinho Vermelho, A Conchinha, O Pintainho e no Colégio Estrela do Mar, em Sines, abrangendo cerca de 320 crianças.
A responsável da Unidade de Saúde Pública do Litoral Alentejano, Fernanda Santos, espera que o programa venha a ser alargado a outros infantários nos concelhos vizinhos de Santiago do Cacém, Odemira, Grândola e Alcácer do Sal.
“A nossa ideia é começarmos aqui e nos anos seguintes estender às restantes escolas do litoral alentejano”, disse Fernanda Santos, considerando o açúcar uma “grande preocupação”.
“Não é tanto o mal que o açúcar faz às crianças nesta idade, mas é os hábitos que estas crianças vão ter de comer açúcar e sal e que vão levar para a vida adulta, porque começam a sentir necessidade. Uma criança que nunca comeu açúcar, não sente necessidade de açúcar”, concluiu.
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