Habitualmente encerrado à segunda-feira, o "Mezze", restaurante da Pão a Pão - Associação para a Integração de Refugiados do Médio Oriente, abriu especialmente e reuniu 64 pessoas para degustar os sabores da cozinha síria, confecionados e servidos à mesa por refugiados da Síria.
Hoje, o dia era de folga para as cozinheiras e os empregados de mesa sírios, mas a causa foi mais importante: cada refeição servida, no valor de 25 euros, reverteu para os Capacetes Brancos, organização civil de socorristas sírios que opera em Ghouta Oriental, o último bastião da oposição ao Presidente da Síria, Bashar al-Assad.
"A ideia surgiu da necessidade de querermos contribuir para o que está a acontecer em Ghouta. A Alaa Hariri, que faz parte da associação, trouxe este desafio de ajudar os Capacetes Brancos. Imediatamente, organizamo-nos para fazer um jantar solidário", explicou Rita Melo, vice-presidente da Pão a Pão.
Satisfeita pela adesão ao jantar solidário, Rita Melo salientou que as pessoas "acederam logo" à iniciativa, lembrando que "em duas horas" ficaram preenchidas "as vagas do jantar".
No entanto, "ficaram muitas pessoas de fora", pelo que se admite a possibilidade de "repetir a iniciativa", talvez "noutro local, com mais pessoas, de forma a angariar-se verbas para os Capacetes Brancos", nomeados para o Nobel da Paz em 2016, tendo recebido o prémio Right Livelihood, o chamado "Nobel alternativo".
Rita Melo realçou a importância do "impacto social" do restaurante "Mezze", um "projeto da associação Pão a Pão", aberto em setembro do ano passado.
"É um negócio com impacto social, em que o primeiro objetivo é a captação de refugiados do Médio Oriente e a respetiva empregabilidade", frisou, referindo que "Mezze" tema atualmente 12 sírios a trabalharem.
Com o propósito de assegurar que "a integração seja efetiva", a associação Pão a Pão pretende alargar o espaço do "Mezze", no Mercado de Arroios, estando, neste momento, em fase de "obras necessárias" em sala ao lado do restaurante, "para alargar a área de negócio para o 'catering' e se empregar mais refugiados".
Em perspetiva está igualmente "replicar este modelo de negócio, com outras pessoas", no Porto.
No "Mezze", trabalham igualmente refugiados provenientes do Iraque e da Palestina.
Sitiada desde 2013 pelas forças governamentais, Ghouta Oriental tem sido alvo nas últimas semanas de intensos bombardeamentos (apesar da aprovação de uma trégua humanitária no Conselho de Segurança da ONU) e enfrenta uma grave crise humanitária, marcada pela escassez de alimentos e de medicamentos. Mais de 600 civis, incluindo uma centena de crianças, perderam a vida nos bombardeamentos das últimas semanas.
No terreno estão aqueles que são conhecidos a nível internacional como Capacetes Brancos. Esta força civil síria é composta por cerca de 3.400 voluntários, homens e mulheres com as mais variadas profissões, de professores a engenheiros, mas também bombeiros, alfaiates ou estudantes.
Desde o início do conflito na Síria, em 2011, já salvaram quase 100 mil pessoas. E 204 destes voluntários foram mortos quando tentavam salvar vidas.
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