Quase uma semana depois da revolta dos moradores da cidade valenciana de Paiporta contra os líderes do governo espanhol, da região de Valência e contra os reis, a indignação da população com os políticos continua nas ruas

Um grupo de manifestantes entrou em confronto com a Polícia Nacional no centro de Valência, no protesto contra a “gestão caótica” das cheias que, na semana passada, causaram mais de 220 mortes naquela cidade espanhola.

No início da manifestação ocorreram incidentes em frente à Câmara Municipal, onde um grupo de jovens atirou lama, o que exigiu a intervenção da tropa de choque.

Câmara municpal de Valencia com pichagens durante o protesto
Câmara municpal de Valencia com pichagens durante o protesto Câmara municpal de Valencia com pichagens durante o protesto créditos: AFP or licensors

Posteriormente, no final da manifestação e nas proximidades da Plaza de la Virgen, lama, cadeiras e outros objetos foram novamente atirados contra os agentes policiais, que intervieram novamente.

Os milhares de pessoas que se manifestaram hoje em Valência criticaram ainda o presidente da região de Valência, Carlos Mazón, e o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, por terem subestimado os riscos e coordenado mal os esforços de socorro, após as cheias de 29 de outubro.

Entretanto, a Câmara Municipal divulgou um comunicado onde lamenta o “terrível vandalismo” que o edifício sofreu durante a manifestação.

Manifestação em Valência
Manifestação em Valência Manifestação em Valência créditos: AFP or licensors

Segundo o comunicado, “foi anulada uma tentativa de atear fogo à porta principal, que teve de ser apagado com extintores pela polícia que se encontrava no interior do edifício”.

“Além disso, diversas janelas foram partidas e foram pintados vários ‘grafittis’ nas paredes”, acrescentou.
A autarquia frisou na nota que estão atitudes “não se podem tolerar porque nestes momentos há que trabalhar em conjunto para recuperar os locais afetados pelas cheias”.

Neste sábado, Valência e outras cidades espanholas estão a ser palco das primeiras grandes manifestações contra a gestão das inundações de 29 de outubro e as consequências catastróficas, com mais de 200 mortos, dezenas de desaparecidos e muitas localidades devastadas.

"Considero lamentável tudo o que aconteceu, desde o aviso de perigo que nunca foi emitido, até toda a gestão que se seguiu, absolutamente ninguém apareceu aqui durante dias", disse à AFP Manuel Gayá, um engenheiro de 40 anos que mora na pequena cidade de Llocnou de la Corona.

"Há quatro dias estamos completamente perdidos, a limpar as ruas, as casas, a ajudarmo-nos uns aos outros", acrescentou o homem na quinta-feira.

O slogan "só o povo salva o povo" ("Solo el pueblo salva al pueblo", no original)  tornou-se popular em Valência nos últimos dias, condensando os agradecimentos aos voluntários e a acusação de abandono aos políticos.

"Mazón, renuncie"

Sob o slogan "Mazón, renuncie", as manifestações deste sábado exigem a renúncia de Carlos Mazón, presidente do governo regional do conservador Partido Popular, na oposição em Madrid.

O advogado de 50 anos é acusado de ter subestimado a tempestade que se aproximava, apesar de a agência meteorológica estatal (Aemet) ter emitido um alerta vermelho horas antes.

O presidente regional também é acusado de ter desaparecido por cinco horas críticas, quando já estava a começar a chover e o comité de emergência convocado antes das chuvas estava à sua espera.

Segundo Mazón, o próprio esteve  "num almoço de trabalho" num restaurante em Valência, noticia a AFP. Na sexta-feira, a imprensa espanhola informou que Mazón estava almoçando com uma jornalista conhecida.

Não foi emitido alerta a toda a população com aviso para que se abrigasse, e a principal autoridade de emergência da região, Salomé Pradas, admitiu na quinta-feira que não sabia que essa possibilidade existia, embora mais tarde tenha se retratado.

Quando os alertas começaram a tocar nos telemóveis dos habitantes de Valência, muitos já estavam debaixo de água.

*Com agências Lusa e AFP.