Maduro foi proclamado pela autoridade eleitoral como presidente reeleito para um terceiro mandato de seis anos com 52% dos votos, em comparação com 43% do opositor Edmundo González Urrutia, representante da líder María Corina Machado, que denuncia uma fraude.

Horas após o primeiro boletim, eclodiram manifestações em Caracas e em outras cidades do país, incluindo bairros pobres que historicamente identificavam-se como chavistas.

"Os registos (...) indicam 24 pessoas falecidas entre domingo, 28 de julho, e segunda-feira, 5 de agosto, em eventos e protestos relacionados com as eleições", diz um relatório da ONG de direitos humanos Provea, que inclui um militar.

O balanço coincide com um relatório anterior fornecido pela diretora da Divisão das Américas da Human Rights Watch, Juanita Goebertus.

As mobilizações diminuíram quase instantaneamente devido às detenções arbitrárias denunciadas por ativistas. A imprensa informou sobre a morte de manifestantes que chegaram feridos a centros de saúde. Várias organizações de direitos humanos têm denunciado um clima de repressão no país e alegadas violações maciças dos direitos humanos contra os manifestantes detidos no âmbito dos protestos que saíram às ruas venezuelanas após as eleições de 28 de julho.

Maduro relatou duas mortes de militares, sem mencionar vítimas civis, afirmando também haver pelo menos 59 agentes da polícia e 47 membros das forças armadas feridos. Também afirmou que há mais de 2.200 pessoas detidas, a quem chama "terroristas" e que vincula a um plano para derrubá-lo.

“Já há 2.229 terroristas capturados, com provas, e no sábado serão transferidos para Tocorón e Tocuyito”, disse na terça-feira o chefe de Estado, referindo–se a duas penitenciárias.

Num evento televisivo, Maduro garantiu que “Tocorón e Tocuyito estão prontos para os terroristas, para os criminosos” e para deter “todos os gangues da nova geração que estão envolvidos nos protestos violentos”.

Num encontro com dezenas de apoiantes idosos à porta do palácio presidencial, divulgado pela televisão estatal VTV, o Presidente acusou os detidos de atacarem e assassinarem pessoas — sem especificar o número de vítimas — e de queimarem hospitais, escolas, liceus e universidades, bem como esquadras policiais, autarquias e sedes do partido no poder.

Maduro apontou o dedo ao candidato presidencial da oposição, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, e à líder da oposição, María Corina Machado.

Nesta terça-feira, o ministro colombiano, Luis Gilberto Murillo, rejeitou "qualquer ato que leve ao aumento da violência ou que gere repressão" e instou "a que haja muita cautela, muita prudência, para evitar que surjam focos de violência". Brasil, Colômbia e México estão a promover um acordo político na Venezuela visando superar a crise.

O regime de Caracas diz estar em curso um golpe de Estado, mantendo nas ruas milhares de polícias e militares para controlar os manifestantes, e pediu à população que, de maneira anónima e através da aplicação VenAPP, denuncie quem promove os protestos.

“Desesperados e sediciosos"

Machado — que denuncia uma "campanha de terror" do governo — convocou para quinta-feira uma vigília "pela liberdade dos presos políticos". Não está claro se comparecerá — embora tenha participado numa grande concentração oposicionista no sábado, continua escondida por temer pela sua vida. González Urrutia, por sua vez, não é visto em público há uma semana.

O Ministério Público abriu uma investigação contra ambos por "incitação à insurreição" e outros crimes, como "conspiração", após publicarem uma carta aberta aos militares e polícias na qual defendiam a vitória da oposição nas eleições e pediam que se colocassem "ao lado do povo".

A Força Armada da Venezuela, em resposta, reiterou nesta terça-feira a sua "absoluta lealdade" a Maduro e qualificou esses pedidos de apoio como "desesperados e sediciosos", segundo um comunicado lido antes pelo ministro da Defesa, general Vladimir Padrino.

"Esses apelos fúteis e irracionais procuram fragmentar a nossa unidade e institucionalidade, mas jamais o conseguirão", destacou Padrino, acompanhado pelo alto comando militar e policial. Na semana passada, Maduro pediu prisão para Machado e González Urrutia.

A União Europeia, que questionou a vitória de Maduro, assim como os Estados Unidos e vários países da América Latina, pediu o fim do que considera uma "campanha de intimidação judicial".

Além das armas, os militares controlam empresas de mineração, petróleo e distribuição de alimentos, bem como as alfândegas e 12 dos 34 ministérios, incluindo pastas importantes como Petróleo, Energia, Defesa, Relações Interiores e Comércio.

A oposição e especialistas denunciam redes de corrupção que enriqueceram muitos oficiais.

O futuro da eleição repousa, por enquanto, no Supremo Tribunal, ao qual Maduro pediu para "certificar" o resultado.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não publicou os detalhes do resultado da eleição de 28 de julho. O seu website não funciona desde então e o órgão alega que seu sistema foi hackeado, o que foi descartado por especialistas.

A Sala Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) convocou candidatos e representantes dos partidos para apresentar e "responder às perguntas" relacionadas ao caso. González Urrutia deve comparecer na quarta-feira e Maduro na sexta.

"A falta de comparecimento a esta sala acarretará as consequências previstas no nosso ordenamento jurídico vigente", advertiu a presidente do TSJ, Caryslia Rodríguez.

Machado e González afirmam ter provas da vitória da oposição, após publicar cópias de mais de 80% das atas de votação.

A oposição considera o TSJ um "apêndice" do chavismo, e académicos e líderes políticos consideram o caso improcedente.