“Sem Carnaval, temo-nos visto um pouco aflitos para conseguir pagar tudo”, adiantou, em declarações à Lusa, a vice-presidente da direção da Sociedade Filarmónica Espírito Santo da Agualva, Fabiana Mendonça.

Pelo segundo ano consecutivo, as danças e bailinhos de Carnaval da ilha Terceira, que são manifestações de música e teatro popular tradicionais e integram o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial de Portugal, não vão subir aos palcos devido à pandemia de covid-19.

O Carnaval da ilha Terceira tem entrada gratuita, mas leva às sociedades filarmónicas e casas do povo da ilha milhares de pessoas, que acabam por jantar e petiscar nos restaurantes e bares destas entidades.

Durante quatro dias, entre o sábado e a terça-feira de Carnaval, dezenas de grupos amadores percorrem as mais de 30 salas de espetáculos da ilha com danças e bailinhos, pelos quais o público aguarda nos salões das sociedades filarmónicas, chegando a entrar ao início da tarde e a sair de madrugada.

Sem qualquer alinhamento ou organização, as pessoas chegam a esperar várias horas por um bailinho, sem arredar pé, mas há também quem opte por percorrer os salões, à procura de um grupo em específico ou de um petisco recomendado.

Na sociedade da Agualva, no concelho da Praia da Vitória, as codornizes são um chamariz e a casa está praticamente sempre lotada.

“Por norma, temos a nossa sala de restauração sempre cheia com pessoas para jantar e a sala de espetáculos também”, lembrou Fabiana Mendonça.

A vice-presidente da entidade admitiu que, este ano, “não havia condições” para abrir portas ao Carnaval tradicional da Terceira, alegando que, mesmo que as pessoas usassem máscara, “a reação não era a mesma”.

Sem festas populares na freguesia no verão de 2021 e sem Carnaval, “tem sido muito difícil pagar as contas”.

“A casa tem-se mantido de pé muito devido a dinheiro de anos anteriores, que nos foi deixado. O bar sozinho não colmata as despesas da casa”, explicou.

“Os sócios só se lembram de pagar as quotas quando há Carnaval”, acrescentou.

Os apoios do município e da junta de freguesia têm ajudado e a direção, composta por voluntários, tem tentado angariar verbas com a realização de eventos de menor dimensão para “disfarçar a falta que o Carnaval faz”.

O mandato desta direção termina no final do ano e Fabiana Mendonça reconheceu que será difícil encontrar substitutos.

“As pessoas acabam por ficar um pouco assustadas, porque sabem que é um risco muito grande e que, provavelmente, o dinheiro e o trabalho que investem acabam por não ser recompensados”, explicou.

Na Sociedade Filarmónica Recreio Serretense, na freguesia da Serreta, em Angra do Heroísmo, o cenário é semelhante, revelou à Lusa João Marcelino Costa, membro da direção.

“Os quatro dias de Carnaval eram dias de alguma receita, para manter o edifício e para o que é preciso, mas temos que nos adaptar a esta situação”, adiantou.

João Marcelino Costa disse estar convencido de que o Carnaval estará de regresso em 2023 e que o “vírus” não vai “matar” a tradição, mas reconheceu que seria difícil abrir portas este ano.

“As pessoas ainda estão com receio de ir para um salão. O salão cheio de gente, com tudo fechado é um viveiro para o vírus circular. Acho que não vale a pena arriscar", afirmou.

Até que o Carnaval possa regressar, vão aproveitando as pequenas tréguas que a pandemia dá para realizar outros eventos e assim angariar receitas, que, com os apoios públicos, vão permitindo manter a casa aberta.

“Não temos notado tanto o impacto da falta de receitas devido à câmara municipal ter-se chegado à frente e ter apoiado as sociedades”, realçou João Marcelino Costa.

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