Um grupo de migrantes apedrejou hoje a polícia marroquina em Castillejos (Marrocos), que enviou um importante contingente para uma zona a cerca de um quilómetro do ponto fronteiriço com a cidade espanhola de Ceuta.

O contingente policial marroquino foi aumentando ao longo do dia para pôr termo à onda migratória dos últimos dois dias, que permitiu a entrada de mais de 8.000 pessoas no enclave espanhol, apesar de cerca de 5.600 terem sido devolvidos a Marrocos.

Naquela localidade marroquina, reporta a agência noticiosa espanhola EFE, mais de um milhar de marroquinos, entre eles um número considerável de menores, apuparam os agentes da polícia antimotim, lançando, de vez em quando pedras e sapatos contra os efetivos policiais de Marrocos, que se limitaram a observar a situação sem chegar a intervir.

A pressão migratória na fronteira entre Ceuta e Marrocos diminuiu assim substancialmente, sendo que hoje regista-se a chegada de poucas pessoas a nadar ou em pequenas embarcações, depois do encerramento dos acessos na cidade marroquina de Castillejos. Os imigrantes que conseguem aceder à praia de Tarajal são imediatamente devolvidos pelos agentes que guardam a fronteira.

As forças policiais e de segurança marroquinas formaram uma barreira humana, que encerrou a estrada principal que liga a Tarajal, tendo, atrás deles, várias viaturas policiais.

As forças de segurança marroquinas também enviaram um grande contingente para uma colina adjacente a Ceuta, na praia em que se encontra a zona de fronteira e mesmo nos bairros mais próximos dessa zona.

Poucas horas antes, a EFE disse ter observado os últimos grupos de migrantes marroquinos que conseguiram entrar temporariamente em Ceuta a fazer o caminho inverso, de regresso a Castillejos.

Já os migrantes subsaarianos que lá estiveram foram presos pelas autoridades e posteriormente transportados em autocarros, “provavelmente com destino às cidades do sul de Marrocos”, noticiou a EFE.

Governo espanhol e comunidades autónomas vão acolher menores de Ceuta

A proposta feita pela ministra dos Direitos Sociais e da Agenda 2030, Ione Belarra, na reunião extraordinária do Conselho Territorial dos Serviços Sociais, realizada hoje, procura dar resposta à crise migratória em Ceuta, onde em apenas dois dias entraram irregularmente cerca de 8.000 imigrantes ilegalmente, 1.500 dos quais são menores, tendo 5.600 sido expulsos para Marrocos.

As comunidades autónomas concordaram com a proposta, aceitando acolher cerca de 200 menores "cuja situação jurídica, escolar e de saúde é atendida e regularizada" por Ceuta, que já se encontra em condições de os transferir com o apoio da Direção-Geral dos Direitos da Criança e do Adolescente, segundo um comunicado do Governo de Madrid.

“Essas transferências podem ser feitas imediatamente, para assim se poder atender adequadamente as crianças que acabam de chegar”, podendo permanecer nos centros de recursos de emergência, disse Belarra, que acrescentou que as autoridades tentarão “garantir que elas possam ser tratadas nos centros de proteção” de Ceuta.

Para a ministra, todas as administrações têm de assumir coletivamente “este compromisso partilhado e solidário, pactuando rapidamente com os critérios de distribuição global” destas 200 crianças.

Ione Belarra salientou que “a solução não pode estar apenas” em Ceuta.

“É o país como um todo que deve enfrentar o problema, dando sempre prioridade aos interesses dos menores”, explicou a ministra, dizendo que a crise migratória que se vive em Ceuta obriga as autoridades a “dar mais um passo com urgência” para assegurar “solidariedade e uma resposta coletiva” das comunidades autónomas.

Sobre o regresso a Marrocos dos menores desacompanhados, a ministra disse ser “necessário” reforçar os serviços consulares para “esclarecer e agilizar” os procedimentos de reagrupamento dos menores que manifestaram vontade de regressar com as suas famílias.

“É importante entender que estamos a lidar com crianças muito mais jovens do que o normal. Muitas delas não sabiam as consequências de cruzar a fronteira. E estamos a descobrir que muitas querem voltar para as suas casas”, disse Belarra, que confirmou que está a trabalhar com outros ministérios para articular todos os mecanismos que permitam o regresso dessas crianças às suas famílias “em condições de segurança e com todas as garantias legais”.

A conselheira das ilhas Canárias para os Direitos Sociais, Noemí Santana, pediu "uma distribuição corresponsável e solidária dos menores" que chegam a Espanha - no arquipélago são 2.700 - e uma lei que "obriga ao equilíbrio" com base na população e recursos de cada comunidade.

A Comunidade de Madrid, por sua vez, pediu ao Governo para que esclareça o número de menores de Ceuta que pretende transferir para cada comunidade e que informe sobre os fundos que serão distribuídos para acomodar os gastos com esta operação.