“Quando no trajeto de Santa Margarida telefonei ao chefe de gabinete, ele devolveu-me a chamada a dizer que fizesse comunicado com o coronel Estalagem [ex-diretor do núcleo de investigação criminal da PJM] e o assessor para a comunicação social do gabinete do ministro [Telmo Gonçalves]”, disse o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos.
Instado no final da audição a clarificar este ponto pelo deputado do CDS-PP António Carlos Monteiro, o coronel Luís Vieira reiterou que houve “ordens” do ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes para que o comunicado a divulgar a recuperação do material fosse feito “em cooperação com o assessor de imprensa do gabinete”.
No comunicado divulgado no dia 18 de outubro de 2017, a PJM anunciou que, "no âmbito de investigações de combate ao tráfico e comércio ilícito" de material de guerra, recuperou durante a madrugada "na região da Chamusca, com a colaboração do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé, o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos”.
O deputado centrista sustentou que foi com base nesse comunicado que o ministro da Defesa e o primeiro-ministro, António Costa, “fazem afirmações públicas a dizer que todo o material foi recuperado” e, frisou, “desse modo procurarem encerrar o tema Tancos”.
“Foi uma encenação política para encerrar o tema Tancos”, defendeu António Carlos Monteiro.
O deputado considerou por outro lado que, havendo um órgão como a Procuradoria-Geral da República a decidir entregar ao Ministério Público a direção do inquérito, Luís Vieira decidiu “insubordinar-se”.
Sobre a sua decisão de ordenar a recuperação do material furtado apesar de o inquérito já estar na alçada da Polícia Judiciária civil, Luís Vieira respondeu que não está arrependido e afirmou-se de “consciência tranquila”.
“A procuradora-geral da República [à data Joana Marques Vidal] também não obedeceu à lei. Violou três leis da Assembleia da República”, respondeu.
Para o deputado comunista Jorge Machado, o que está em causa na atuação do ex-diretor da PJM é que a decisão da procuradora-geral da República (PGR) de entregar a direção do inquérito à PJ “é soberana” e deveria ter sido acatada, independentemente de se concordar ou não.
Luis Vieira afirmou que, além de uma “ilegalidade”, houve “desconsideração” pela PJM na decisão da ex-PGR e adiantou que lhe telefonou a transmitir a sua posição.
“A PGR não quis atender à minha argumentação jurídica, não me quis ouvir, foi desagradável e perentória”, declarou Luís Vieira.
O coronel adiantou não saber dizer se "houve uma guerra entre polícias", afirmando que até ao caso de Tancos a colaboração entre a PJM e a PJ foi sempre “excelente” e que “teve sempre esperança” que a decisão da ex-PGR viesse a ser alterada para incluir a Judiciária Militar nas investigações.
O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.
Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
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