Em declarações aos jornalistas depois de o novo Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general José Nunes da Fonseca, ter apresentado cumprimentos à Mesa da Comissão de Defesa, o social-democrata Marco António Costa salientou que, ainda em recente entrevista ao DN/TSF, tinha afirmado que as conversas com o ex-ministro da Defesa “de forma alguma evidenciavam” que tivesse conhecimento do que se passou.
“As notícias que vieram a público, a serem verdadeiras e a confirmarem-se, deixam-me chocado e triste. E acima de tudo deixam-me uma preocupação: que a comissão parlamentar de inquérito possa vir a apurar a real dimensão desse complô e quem efetivamente faz parte de um complô para ocultar uma farsa, que é já disso que já estamos a falar”, afirmou.
Questionado sobre se considera ser possível que o primeiro-ministro não tenha sido informado pelo antigo ministro da Defesa, Marco António Costa não quis comprometer-se.
“Eu acreditei que o chefe de gabinete, a saber, poderia não o ter transmitido ao senhor ministro. Pelos vistos estava enganado, a ser verdade as notícias que vieram a público. Aquilo que posso admitir a partir daqui, tendo caído esta barreira de confiança, é que tudo é possível”, apontou.
Para Marco António Costa, sem querer referir-se a “a, b ou C”, “todos os que estiveram envolvidos no complô têm de ser desmascarados, responsabilizados e prestar contas ao país”.
“Isto aliás é o que tem vindo sempre a exigir o Presidente da República: seja quem for”, recordou.
Questionado sobre se os documentos enviados pela Procuradoria Geral da República sobre o processo de Tancos à Comissão de Defesa, e que têm estado lacrados e trancados, não poderão trazer mais respostas sobre o caso, Marco António Costa lembrou que solicitou uma aclaração à PGR quanto à questão do segredo de Justiça, ou seja, para decidir com que regras poderão ser consultados os documentos que, para além de serem confidenciais, se referem a um processo em segredo de Justiça.
Dizendo que “não teve curiosidade de os analisar”, o presidente da Comissão de Defesa salientou ainda que os deputados podem decidir em sentido contrário ao seu em relação aos documentos.
“Assumem é a responsabilidade disso, eu sou muito cioso de não atropelar nenhuma regra em matérias tão sensíveis como o segredo de justiça e o segredo de Estado”, disse.
De acordo com o deputado do PSD, até agora nenhum deputado levantou esta questão, apenas um grupo parlamentar defendeu que os documentos não deviam ser sujeitos a consulta, mas dirigidos diretamente à comissão parlamentar de inquérito que deverá ser aprovada na sexta-feira.
Sobre a reunião de cerca de 45 minutos com o novo CEME, Marco António Costa disse apenas que o considerou “empenhado em unir o Exército” e antevê um trabalho conjunto “construtivo e árduo”.
O ex-ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, manifestou hoje ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal [DCIAP] “total e completa disponibilidade e interesse” em ser ouvido sobre o caso de Tancos, disse o próprio à Lusa.
O Público e Correio da Manhã escrevem hoje que o tenente-general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete do anterior ministro da Defesa, disse na quarta-feira no interrogatório judicial ter informado Azeredo Lopes sobre o memorando da Polícia Judiciária Militar, que descreve uma operação de recuperação do material militar furtado em Tancos.
Na carta que enviada ao primeiro-ministro, António Costa, no dia em que apresentou a demissão, 12 de outubro, Azeredo Lopes voltou a desmentir categoricamente que tenha tido conhecimento “direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos autores do furto”.
O furto de material de guerra dos paióis de Tancos foi divulgado pelo Exército no dia 29 de junho de 2017. A 18 de outubro a PJM anunciou que recuperou o material furtado, sabendo-se depois que faltavam munições e que foi encontrada uma caixa a mais.
Em setembro passado, uma investigação do Ministério Público à recuperação do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR e de um civil.
Na mesma altura, foi noticiado que a PJM terá montado uma operação de encenação da recuperação do material furtado, que dela terão dado conhecimento ao chefe de gabinete do então ministro da Defesa.
Dias depois da demissão de Azeredo Lopes, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também se demitiu, tendo sido substituído pelo general Nunes da Fonseca.
O inquérito tem 9 arguidos constituídos e está em segredo de justiça.
Comentários