Este estudo pretendeu avaliar se os profissionais de saúde que compõem esta amostra estiveram infetados pela covid-19, mas permaneceram assintomáticos.
A análise, que teve início em junho, não incluiu médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica e outros profissionais que testaram positivo à covid-19, nem os que exerceram funções através de teleconsulta, tendo privilegiado os que estiveram no terreno no período crítico da pandemia.
“Ainda não podemos comparar a seroprevalência nos profissionais com a seroprevalência na população em geral”, referiu o bastonário da OM, Miguel Guimarães, que falava aos jornalistas no Porto ao lado dos promotores do estudo levado a cabo pela Fundação Vox Populi, Fundação Manuel Viegas Guerreiro, Fundação The Claude and Sofia Marion Foundation, Fundação Álvaro Carvalho e Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa.
Já salvaguardando que os dados “são ainda preliminares”, o coordenador do estudo e presidente da Fundação Álvaro Carvalho, explicou que “o objetivo foi compreender se a taxa de prevalência nos profissionais de saúde é superior à da população em geral” e, dessa forma, “conhecer o real impacto na pandemia em Portugal, preparando o país para os meses que se aproximam”.
“Concluiu-se que a taxa de prevalência foi de cerca de 3%, o que é baixo para a nossa expectativa dada a exposição que tiveram. Mas há que ter em conta fatores de correção. A taxa de prevalência será superior na realidade”, referiu Álvaro Carvalho, médico de Medicina Interna.
O estudo visou profissionais de saúde de unidades de cuidados primários, bem como de contexto hospitalar, instituições privadas, públicas e do setor social.
Sem precisarem números por categoria profissional, os promotores do estudo garantiram ter existido “a preocupação de haver proporcionalidade face à realidade”, ou seja, mais enfermeiros que médicos, por exemplo.
Já, sublinhando a abrangência de Norte a Sul do país, foi destacado que a taxa de prevalência foi de 6,2% nos profissionais de saúde da região Norte, enquanto no Sul o valor ronda os 2%.
Os dados hoje apresentados apontam, também, que cerca de 80% dos profissionais entrevistados dizem ter trabalhado protegidos, enquanto 17% responderam que estavam parcialmente protegidos e “uma pequenina fração não teve nenhuma proteção”.
“Isto vem reforçar o problema que tem esta pandemia que são os assintomáticos. Cerca de 3% dos profissionais de saúde ficaram infetados e a sua infeção passou assintomática. Eles nem deram por ela”, analisou Francisco Antunes, que foi diretor do Serviço de infecciologia do Hospital de Santa Maria e é professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
“É importante insistir que o problema do controlo desta infeção é a elevada prevalência dos assintomáticos. São transmissores de infeção ainda que, certamente nos cuidados de saúde se protejam a eles e aos seus doentes. Há que reforçar a importância da proteção”, concluiu Francisco Antunes.
Também Miguel Guimarães, socorrendo-se especificamente das respostas dos médicos sobre equipamentos de proteção individual (EPI), destacou que “dois terços disseram ter tido acesso [a equipamento], o que quer dizer que “pelo menos um terço não terá tido”.
“Houve algumas falhas que têm a ver com várias situações e [os profissionais de saúde] não estiveram sempre com os EPI que deveriam. Os EPI não são iguais em todas as circunstâncias. Uma máscara cirúrgica é diferente de uma FFP2″, exemplificou.
Paralelamente a este estudo, decorre a análise e conclusão de outros dois levados a cabo pela mesmo grupo de entidades.
Um que usa o concelho de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, como “concelho amostra” e que tem como objetivo analisar a taxa de prevalência epidemiológica em Portugal. Inclui 3.000 pessoas de todas as freguesias e de várias faixas etárias.
“Gaia porque é o segundo concelho maior do país em número de habitantes, tem uma área urbana e rural, atividade económica primária, secundária e terciária e foi uma zona muito atingida pela pandemia numa fase inicial”, justificou Álvaro Carvalho.
Já o terceiro estudo, que tem como nome “Painel de Vigilância Imunológica” e inclui pessoas que testaram positivo ao novo coronavírus, visa estudar se as pessoas ficam com alguma imunidade humoral e por quanto tempo.
Este painel abrange 600 pessoas de todo o país, 200 das quais profissionais e utentes de lares, e terá em conta quatro análises ao sangue.
Os resultados finais serão publicados com o apoio do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e da Medical School da Universidade Nova de Lisboa.
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