Paris justificou a decisão por considerar "pobre em conteúdo e totalmente inapropriada na forma" a carta do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao presidente francês, Emmanuel Macron, com o pedido para readmitir os migrantes que chegam à sua costa.

Numa carta divulgada à imprensa, Johnson pede a Macron "um acordo bilateral de readmissão (...) de todos os migrantes em situação ilegal que cruzam (o Canal da Mancha)", indicando que a União Europeia (UE) tem pactos similares com Rússia e Bielorrússia.

"Esta medida teria um efeito imediato e reduziria consideravelmente, e inclusive deteria, as travessias, salvando vidas, ao acabar com o modelo económico das máfias", completou o chefe de Governo conservador.

O ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, criticou o conteúdo da carta e a sua divulgação, o que o levou a cancelar a participação da sua colega britânica, Priti Patel, numa reunião no domingo em Calais (norte) com outros países.

O objetivo do encontro, que está confirmado com autoridades da França, Bélgica, Holanda, Alemanha e da Comissão Europeia, é "reforçar a cooperação policial, judicial e humanitária, assim como lutar de maneira mais eficiente contra as máfias".

O governo britânico pediu que Paris retome o convite a Patel. "Nenhuma nação pode enfrentar isto sozinha. Espero que os franceses reconsiderem a decisão", afirmou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, à BBC.

Com o aumento dos controlos nos portos e no acesso ao túnel sob o Canal da Mancha, os migrantes optaram pelo uso de embarcações para tentar alcançar as costas do Reino Unido, um fenómeno que aumentou a partir de 2018.

Do início do ano até 20 de novembro, 31.500 tentaram a travessia. A tendência não diminuiu apesar da queda das temperaturas e na quarta-feira 27 migrantes morreram na tentativa de chegar ao Reino Unido, a maior tragédia desde 2018.