Três dias após os atentados de Bruxelas, o japonês Yukiya Amano exortou os países: "Os Estados-membros devem interessar-se em reforçar a segurança nuclear", disse Amano numa entrevista exclusiva concedida à AFP quinta-feira, em Viena.

Entre 31 de março e 1 de abril, o presidente americano, Barack Obama, receberá, em Washington, uma conferência com cerca de 50 países convidados para analisar esta ameaça. "O terrorismo alastra e não se pode excluir a possibilidade de que utilizem materiais nucleares", acrescentou. "O maior problema são os países que não reconhecem o risco do terrorismo nuclear", avaliou.

Para Amano, além do risco de um ataque direto a uma das cerca de mil instalações nucleares que existem em todo o mundo, outro risco é o roubo de materiais radioativos. Nos últimos 20 anos, a AIEA contabilizou cerca de 2.800 casos deste tipo de tráfico, inclusive a posse ilícita de materiais e a "perda" de substâncias. "É muito possível que isto seja apenas a ponta do iceberg", afirmou.

Outro exemplo são os drones não identificados, captados a sobrevoar instalações nucleares francesas nos últimos meses. O último incidente do tipo foi registado na quarta-feira passada.

Bomba suja

Amano explicou que uma quantidade de plutónio equivalente à massa de uma fruta grande é suficiente para fazer uma bomba atómica rudimentar, algo que hoje em dia "não é impossível". "É uma tecnologia já antiga e hoje em dia, os terroristas têm os recursos, o conhecimento e a informação" necessários. Em todo o mundo, há suficiente plutónio e urânio enriquecido para fabricar o equivalente a 20 mil bombas de Hiroshima, segundo o Painel Internacional sobre Material Físsil, um grupo de especialistas.

No entanto, Amano afirma que o risco principal é o de uma "bomba suja", ou seja, um explosivo convencional em vez do urânio ou do plutónio, que disperse outros materiais radioativos. Estes materiais podem ser encontrados em pequenas quantidades em universidades e hospitais de todo o mundo que, em geral, não dispõem da vigilância das instalações nucleares. "As bombas sujas bastariam para (provocar) pânico em qualquer grande cidade", afirmou Amano.

A emenda à Convenção sobre a Proteção Física dos Materiais e Instalações Nucleares, que obrigaria legalmente os países a proteger estes materiais, não pôde ainda entrar em vigor onze anos depois da sua redação devido à falta de uma cota mínima de países signatários. No entanto, na quinta-feira, a AIEA anunciou que o Paquistão ratificou o texto, o que reduz a oito o número de países que têm ainda de assiná-lo.