Tiago Pitta e Cunha, 54 anos, é uma das "personalidades mais reconhecidas e relevantes - em Portugal, na Europa e no plano internacional – na luta pela necessária mudança de atitude das sociedades humanas em relação aos assuntos do Mar e dos Oceanos", destacou Francisco Pinto Balsemão, que presidiu o júri, acrescentando que "a sua visão transformadora envolve as políticas públicas, mas também os valores éticos, as atitudes, os comportamentos que são gerados pela cultura, pela educação, pelas novas exigências de literacia científica, que a complexidade do tempo [atual] exige".

Para esta escolha foram tidos em conta "o rigor e a persistente coerência de mais de duas décadas e meia dedicadas integralmente a trazer a importância do Mar para a agenda política e cultural nacional, europeia e global; a unidade entre pensamento e ação; uma liderança baseada no exemplo e na partilha de responsabilidades".

Segundo o júri, a Fundação Oceano Azul, da qual Tiago Pitta e Cunha é administrador executivo desde a fundação, em 2017, "é ela própria resultante de um processo de diálogo e convergência de atores e perspetivas diferenciados, onde se destaca o papel da filantropia e da responsabilidade social privadas".

Com esta escolha, pretende-se também "distinguir e estimular todos aqueles que colocam o seu saber e talento ao serviço de causas públicas de valor universal, aumentando com isso a viabilidade de uma cultura voltada para a cooperação coletiva, fator crítico de que dependerá, em grande medida, a superação das ameaças existenciais contemporâneas”, destacou Francisco Pinto Balsemão.

Tiago Pitta e Cunha e a Fundação Oceano Azul "têm impulsionado a criação de alianças entre múltiplos interesses públicos e privados", que resultaram na criação de vastas áreas de proteção dos ecossistemas marinhos, combatendo a sua degradação.

Do trabalho desenvolvido ao longo deste ano, o júri destacou a proposta, cientificamente fundamentada, de criação de uma Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário, o Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado; o alargamento da Área Marinha Protegida das Selvagens, a maior do género no Atlântico Norte; o anúncio, em 03 de dezembro, pelo Governo Regional dos Açores, do objetivo de criar, até 2023, uma Área Marinha Protegida de 300 mil quilómetros quadrados.

Os assuntos do Mar e dos Oceanos têm estado presentes na sua atividade profissional com a "intensidade de uma escolha vocacional", sublinhou ainda o júri, enfatizando os cargos nacionais e internacionais que Tiago Pitta e Cunha tem desempenhado, nomeadamente na ONU, na Comissão Europeia e como consultor do Presidente da República.

O especialista em assuntos do mar encarou o prémio que lhe foi atribuído como uma distinção da importância da sustentabilidade do oceano e insistiu na necessidade de mudar atitudes. Em reação, disse à agência Lusa que se trata de uma distinção dirigida, sobretudo, ao tema em que se centra o seu trabalho.

“Vejo o prémio como uma forma de poder continuar este meu trabalho de chamar a atenção do nosso país para a importância que o oceano pode ter no século XXI”, afirmou, defendendo que essa importância ainda não é suficientemente reconhecida em Portugal e apelando para mudança de atitudes.

“Eu gostava de ver a minha sociedade ser uma sociedade muito mais respeitadora da natureza. Há muita coisa que tem de mudar em Portugal”, disse.

Sublinhando a importância da sustentabilidade dos oceanos no combate às alterações climáticas, o especialista destacou ainda o trabalho da Fundação Oceano Azul e os esforços para “salvar o que resta”, designadamente através da criação de áreas marinhas protegidas. Essa é uma forma de “permitir às próximas gerações poderem beneficiar da economia azul e com isso fazer o nosso país agarrar o comboio do século XXI que, de alguma maneira, perdemos nos séculos XIX e XX”.

Além de Francisco Pinto Balsemão, o júri do Prémio Pessoa 2021 foi composto por Emílio Rui Vilar, Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.

O Prémio Pessoa, uma iniciativa do Expresso com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, no valor de 60 mil euros, visa reconhecer a atividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país.

Lista das personalidades distinguidas com o Prémio Pessoa, desde a sua criação, em 1987:

2021 - Tiago Pitta e Cunha (jurista).

2020 - Elvira Fortunato (cientista).

2019 - Tiago Rodrigues (ator, encenador e dramaturgo).

2018 - Miguel Bastos Araújo (geógrafo).

2017 - Manuel Aires Mateus (arquiteto).

2016 - Frederico Lourenço (filólogo, escritor, tradutor).

2015 - Rui Chafes (escultor).

2014 - Henrique Leitão (historiador de ciência).

2013 – Maria Manuel Mota (investigadora).

2012 – Richard Zenith (investigador).

2011 – Eduardo Lourenço (ensaísta).

2010 – Maria do Carmo Fonseca (investigadora).

2009 – Manuel Clemente (cardeal-patriarca de Lisboa).

2008 - João Luís Carrilho da Graça (arquiteto).

2007 – Irene Flunser Pimentel (historiadora).

2006 – António Câmara (investigador).

2005 – Luís Miguel Cintra (ator, encenador).

2004 – Mário Cláudio (escritor).

2003 - José Joaquim Gomes Canotilho (constitucionalista).

2002 - Manuel Sobrinho Simões (investigador).

2001 - João Bénard da Costa (historiador de cinema).

2000 - Emmanuel Nunes (compositor).

1999 - Manuel Alegre (escritor) e José Manuel Rodrigues (fotógrafo).

1998 - Eduardo Souto de Moura (arquiteto).

1997 - José Cardoso Pires (escritor).

1996 - João Lobo Antunes (investigador, neurocirurgião).

1995 - Vasco Graça Moura (escritor e tradutor).

1994 - Herberto Helder (poeta).

1993 - Fernando Gil (ensaísta).

1992 - António e Hanna Damásio (investigadores).

1991 - Cláudio Torres (arqueólogo).

1990 - Menez - Maria Inês da Silva Carmona Ribeiro da Fonseca (artista plástica).

1989 - Maria João Pires (pianista).

1988 - António Ramos Rosa (poeta).

1987 - José Mattoso (historiador).

[notícia atualizada às 13:51]