Estas são algumas das regras básicas que o arquivo nacional, localizado em Lisboa, vai assegurar, juntamente com medidas de higiene e proteção, para poder começar a fazer atendimento presencial, serviço que tinha ficado suspenso em função das medidas restritivas impostas, devido à pandemia de covid-19.
No entanto, mesmo durante o período de confinamento imposto pelo estado de emergência, os serviços não pararam e a equipa do arquivo continuou a trabalhar no restauro de livros e arquivos históricos, na reprodução e digitalização de documentos, na atualização da base de dados, na área informática e, até, no fabrico de viseiras próprias para utilização, após a reabertura do espaço ao público.
Hoje, último dia útil antes de a Torre do Tombo retomar quase totalmente a sua atividade, a entrada principal e o átrio daquele edifício de 25 mil metros quadrados, encontravam-se completamente desertos, à exceção da segurança na portaria e de duas funcionárias da limpeza a desinfetar o átrio, porque, apesar de ter estado mais de um mês fechado ao público, a limpeza foi mantida em permanência, explicou à Lusa o diretor do arquivo, Silvestre Lacerda, durante uma visita guiada.
O regresso à “possível normalidade” vai ser feito com algumas alterações no método de atendimento e acompanhamento dos utilizadores. Desde logo há três circuitos distintos, para quem vai para a sala de leitura, para quem quer fazer pedidos pontuais, como certidões, por exemplo, e para os funcionários, que passam a entrar no edifício por outra portaria.
Antes disso, há duas regras obrigatórias que têm de ser observadas: o uso permanente de máscara e a desinfeção das mãos com solução de álcool gel à entrada e saída do edifício, e de qualquer sala, bem como antes e após manusear livros ou documentos.
Para aceder à sala de leitura, tem de ser feito um pedido antecipadamente, de forma a que, no dia da visita, os nomes dos utilizadores estejam na posse do segurança da portaria, para serem imediatamente encaminhados para o local, onde os respetivos livros a serem consultados estejam já separados.
O objetivo é “tornar mais fácil todo o trabalho de ir buscar a documentação ao depósito, de ter os documentos já na sala de leitura, para encaminhar as pessoas para os seus lugares, e terem acesso”, explicou o diretor.
Esta sala, situada à esquerda de quem sobe a escadaria principal, dispõe normalmente de cem lugares de leitura – cadeira, mesa e estante -, que foram agora reduzidos a apenas 25, “com respeito pelos 25 metros quadrados para cada um dos utilizadores”.
Neste espaço não há qualquer livro ou documento acessível. Por detrás de um balcão vai estar um funcionário que se encarrega de entregar os livros ao leitor e, depois, de os recolher. A desinfeção do material de consulta é feita antes e imediatamente a seguir à utilização.
Uma vez que o serviço de cafetaria vai permanecer encerrado, estará disponível uma máquina com águas e cafés, naquela que é, para o diretor, “talvez a situação mais complicada de gerir”, pois é difícil esta a assegurar a distância de segurança entre pessoas que querem ir buscar um café.
Esta é uma das razões que justificam um reforço de seguranças, neste período de desconfinamento gradual, para ajudarem a gerir o espaço de movimentação das pessoas.
No caso dos “pedidos de certidões e de leitura e respostas pontuais”, o percurso é diferente, contando com uma primeira triagem no átrio do edifício, onde um técnico, atrás de um balcão, e separado dos visitantes por um acrílico, afere quais os pedidos que podem ser feitos por meio eletrónico e os que necessitam de acompanhamento na chamada “sala de referência”.
Esta sala é oposta à da leitura - fica à direita, no topo da escadaria – e viu reduzidos de 19 para 6 os “postos para consulta”, ou seja, as mesas com computadores que guardam ficheiros específicos, como “o registo geral de presos da PIDE”, a polícia política da ditadura.
Todos os teclados estão revestidos a película aderente, para permitir uma fácil e permanente desinfeção, sem os danificar.
Pelo menos até final de maio, vai permanecer encerrada a sala de leitura de microfilmes, porque é um equipamento que obrigaria a ter funcionários permanentemente a “dar à manivela” em cada consulta.
A solução encontrada, para já, passa por contactar e fazer o pedido aos serviços da Torre do Tombo, que disponibilizará aos interessados as imagens digitais.
Silvestre Lacerda destaca que o digital é agora a grande aposta do arquivo, que já dispõe de 50 milhões de imagens digitalizadas e disponíveis ‘online’, o que, ainda assim, “corresponde a apenas 1% dos 100 quilómetros de documentos” daquela casa.
O auditório vai manter-se encerrado e todos os eventos suspensos, os elevadores foram desativados, estando em funcionamento apenas o monta-cargas, as portas de acesso às escadas, incluindo as de incêndio, vão estar sempre abertas, para circular o ar, e o aviso “mantenha esta porta sempre fechada” terá de ser substituído, ou pelo menos alterada a última palavra.
A equipa que tem de trabalhar dentro das instalações vai manter-se reduzida e a funcionar em turnos alternados, enquanto os restantes funcionários vão permanecer em teletrabalho.
Entre os serviços que nunca pararam dentro do arquivo, conta-se uma nova atividade, desenvolvida pelos funcionários, fruto da necessidade do momento: o fabrico das suas próprias viseiras, que até ao momento já contabilizam 50.
Atualmente, estão a ser adaptadas também as máquinas de costura usadas pelas equipas de restauro, para fabricar “máscaras sociais”, em tecido.
Um “aspeto importante” nesta reabertura total do arquivo nacional, “é o horário de funcionamento: anteciparemos o horário de verão, vamos funcionar das 10:00 às 17:00, ininterruptamente, e encerramos ao sábado”, avisou.
Os arquivos distritais também vão abrir na segunda-feira, com horários semelhantes, para poderem “manter um desfasamento da hora de ponta”.
Por: Ana Leiria da agência
Comentários