Em causa estão sobretudo trabalhadores independentes, que constituem uma larga margem do setor cultural, e que podem não ter acesso aos apoios extraordinários anunciados, o que leva os subscritores a apelar a pessoas e entidades privadas interessadas, e com capacidade de ajudar, a que contribuam para a constituição de um grande fundo de solidariedade para com os profissionais da Cultura.

Esse fundo terá de ser um veículo sério, credível e com escala para receber contribuições, fazendo a diferença na vida de centenas, talvez milhares, de profissionais da cultura, sublinham.

Os subscritores acrescentam que lhes parece “lógico e rápido”, neste momento, que a Fundação Calouste Gulbenkian “abra aos contributos de todos o fundo de emergência que tão atempadamente criou, e que se destina, especificamente nesta área, à reposição de rendimentos perdidos pelos profissionais da cultura devido aos cancelamentos e encerramentos de projetos e instituições culturais.”

Desta forma, prosseguem, “aproveitava-se uma estrutura já criada e funcional, gerida por uma entidade respeitada, de confiança e com potencial sistémico”. E caso a Fundação não possa assumir este papel, consideram que outra entidade com características similares devia tomar a iniciativa.

“Por muito que seja importante perspetivar projetos para o ‘online’ ou para o pós-estado de emergência, devido à covid-19, não se pode criar e produzir quando a urgência é pagar a renda ou colocar comida na mesa”, dizem os signatários da carta, publicada ‘online’, hoje, ao fim da tarde, na área de opinião do jornal Público.

Por isso, só congregando “esforços em torno de um fundo de solidariedade que cuide do presente dos profissionais da cultura (…) podemos, enquanto sociedade, garantir um mínimo de condições de sustentabilidade ao quotidiano de um conjunto alargado de pessoas, que se encontra em enormes dificuldades”, dizem.

Os subscritores recordam ainda que, mesmo nessas dificuldades e incertezas, “uma parte destes profissionais saltou para o ‘online’ na primeira hora, oferecendo o seu trabalho gratuitamente, para amenizar as consequências do confinamento forçado a que todos estamos obrigados.

“Ao mesmo tempo que o Ministério da Cultura apresenta uma série de medidas realistas, urgentes, no sentido de honrar compromissos e de criar um futuro para o sector, é fulcral que se pense no presente dos mais desprotegidos e que exista uma ação central coordenada de grande escala (em vez de diferentes iniciativas de pequena dimensão) no sentido de apoiar as suas necessidades mais imediatas, de sobrevivência”, concluem.

Vigilantes de museus, mediadoras culturais, produtores, ensaiadores, costureiros e caracterizadoras contam-se entre as profissões “invisíveis” que os signatários da carta citam.

A diretora do teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa, Aida Tavares, os encenadores Alex Cassal, António Durães, António Pires, Carlos Pimenta, Levi Martins e Nuno Cardoso, os museólogos Alexandre Matos e Ana Rita Canavarro e o presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João neto, o ator e encenador Álvaro Correia, a atriz Ana Bola, o ator e cienasta Gonçalo Waddington, a técnica de produção Ana Bragança, a produtora e atriz Andreia Bento, as atrizes Cátia Terrinca e Catarina Wallenstein contam-se entre os quase 200 subscritores da carta, que incluem programadores culturais, professores, investigadores, escritores, dramaturgos, artistas plásticos, bailarinos, coreógrafos e gestores culturais.

Num texto publicado hoje no jornal Público, o músico Pedro Abrunhosa lembra também o “impacto devastador” do combate à covid-19, nesses trabalhadores “invisíveis” que “juntam multidões”.

“Não são autores que se possam agora fazer ressarcir dos seus direitos, nem microempresários que possam recorrer às linhas de crédito disponibilizadas, nem produtores de conteúdos que possam agora disponibilizar e monetizar. São operários do sector, invisíveis e silenciosos mas fundamentais (…). Sem eles, os nossos espetáculos seriam uma negridão em cima de uma caixa de cartão”, escreve Pedro Abrunhosa.

Mais de 24.800 espetáculos foram cancelados, adiados ou suspensos em Portugal por causa das medidas de contenção da epidemia da covid-19, revelou na sexta-feira a Associação de Promotores e Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE).

“Estes números só poderão aumentar exponencialmente nas próximas semanas”, alertou a associação.

De acordo com um inquérito feito pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE), a perda de trabalho afeta 98 pessoas em cada 100 na área da Cultura, segundo os resultados divulgados na sexta-feira pela estrutura sindical.

Em termos financeiros, para as 1.300 pessoas que responderam ao questionário, as perdas por trabalhos cancelados somam dois milhões de euros, apenas para o período de março a maio deste ano, segundo o Cena-STE, o que corresponde a um valor médio, por trabalhador, de cerca de 1.500 euros.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 60 mil.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 266 mortes, mais 20 do que na véspera (+8,1%), e 10.524 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 638 em relação a sexta-feira (+6,5%).

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