O homem, que sempre exerceu a profissão de pastor, cuida todos os dias de um rebanho constituído por 210 animais (170 ovelhas e 40 cabras).
"Fui sempre pastor. Nunca conheci outra vida", contou hoje à agência Lusa Álvaro Abrantes, que se levanta diariamente entre as 05:00 e as 05:30, e trabalha "até às 23:00 ou até à meia-noite".
O pastor sublinha que, de facto, tem uma vida de muito trabalho: "Não há sábados, nem domingos, não há feriados, não há nada e o salariozito é quando ele aparece. Quando elas [as ovelhas e as cabras] não dão para a despesa, para a bucha, não há nada para ninguém".
"Não há salário fixo, pronto. Isto é como calha. Se calha bem, calha bem, se calha mal…", remata.
Nos dias de sol, o pastor diz que "está tudo bem", mas com chuva e com neve é que a sua atividade profissional "é pior".
Com bom tempo, quando leva o farnel às costas e "a pinga e o presunto e o queijinho, é uma maravilha. Agora, quando está a chover ou a nevar, o leite, dizem que é negro para o pastor", relata.
O pastor de Gouveia, cuja cabeça, como admite, "já varia um bocado", trata as ovelhas por "Francisca" e por "Donzela", escusando-se a atribuir-lhe nomes individuais, pois os animais já o conhecem perfeitamente. "Se se juntarem com outras, eu tiro-as de lá todas, não fica lá nenhuma", garante.
Álvaro Abrantes cuida diariamente do rebanho com a ajuda da mulher.
Em média, recolhe 60 litros de leite de ovelha, que vende para as fábricas de laticínios da região, porque "não tinha hipótese" de construir uma queijaria para a produção própria de queijo.
A sua mulher faz algum queijo, mas é "só para gasto de casa e para os donos dos pastos", esclarece.
Em relação ao futuro, vaticina que os animais vão acabar na família quando não tiver forças para os apascentar e cuidar, pois os dois filhos e a filha, bem como os três netos, "não se interessam por isto", porque verificam que "o pai não tem domingos, não tem dias santos, nem nada".
Este pastor da Serra da Estrela, natural da aldeia de Folgosinho, em Gouveia, não tenciona desistir dos animais, pois não se imagina a fazer outra coisa: "Não [me imagino]. Nem posso, nem sei. O que é que eu vou fazer? Se for pegar num bloco [utilizado na construção civil], não sei dar meia para a caixa".
Assim, pretende continuar a manter os animais por "brio", porque "pelo interesse" económico da atividade "já os não tinha".
"Mas tenho brio. Já não posso fazer mais nada. Olhe, entretenho-me por aqui até que Deus me dê força, mas enquanto puder nunca as abandono", garante à Lusa.
Segundo este homem, a profissão de pastor não tem futuro, pois os mais novos não se interessam pela atividade e os pastores da região são todos praticamente da sua idade e "os que têm menos de 50 anos, não percebem nada disto".
Álvaro Abrantes, que usa cajado e veste um casaco típico dos pastores da Serra da Estrela, gostava que os jovens enveredassem pela pastorícia, "porque era bonito" e os montes estavam "mais limpos".
Comentários