Críticas internacionais crescem contra a maneira como o governo chinês geriu a crise do novo coronavírus, que matou mais de 150.000 pessoas em todo o mundo e já afeta a economia global desde que apareceu em Wuhan, capital da província chinesa de Hubei em dezembro do ano passado.
Mais da metade da humanidade está confinada nas suas casas, enquanto os governos tentam conter a propagação do vírus mortal.
Os líderes mundiais estão a tentar descobrir quando — e como — abrandam as medidas de contenção para reativar a economia devastada.
Trump está ansioso para liberar a retoma da atividade económica, enquanto outros países europeus também afetados pelo vírus estão lentamente a mover-se em direção à normalidade, com a reabertura de algumas lojas e escolas.
China nega acusações
O presidente americano anunciou esta semana uma "reabertura" por etapas dos Estados Unidos, mas voltou à questão do número de mortos na China, depois de a cidade de Wuhan adicionar 1.290 mortes ao total de falecimentos pelo novo coronavírus.
Com estes novos dados, que correspondem apenas a Wuhan, o balanço total de óbitos — devido a "atrasos" e "omissões" nos registos — passou a 4.632 neste país de quase 1,4 mil milhões de habitantes.
"A China acaba de anunciar uma duplicação no número de mortes pelo Inimigo Invisível. É muito maior que isso e muito maior que o dos Estados Unidos, nem chega perto!", escreveu no Twitter o presidente americano.
Atualmente, os Estados Unidos são o país com mais mortes relatadas pelo vírus, com cerca de 33.000 óbitos.
Líderes na França e no Reino Unido também criticaram a forma como a China lidou com a crise, e o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que seria "ingénuo" pensar que Pequim lidou bem com a pandemia.
Até agora, acredita-se que o coronavírus tenha aparecido num mercado popular em Wuhan, onde certas espécies de animais exóticos são vendidas para consumo humano.
O novo coronavírus teria origem animal, semelhante a um patógeno presente em morcegos, e teria-se espalhado para o homem e sofrido mutação.
Mas a imprensa americana abriu uma nova hipótese. Segundo o The Washington Post, a embaixada dos Estados Unidos em Pequim alertou há dois anos sobre más medidas de segurança num laboratório que estuda coronavírus de morcego.
Pequim, sob críticas internas e externas por supostamente ter subestimado a situação e favorecido a disseminação do vírus, respondeu esta sexta-feira às acusações.
"Nunca ocultámos nada e nunca autorizámos ocultação", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.
Baque económico
Desde dezembro, o novo coronavírus infectou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo e deixou dezenas de milhões de desempregados, 22 milhões nos Estados Unidos.
Esta sexta-feira a China anunciou que o seu PIB caiu 6,8% no ritmo anual no primeiro trimestre do ano.
O gigante asiático não experimenta uma contração no seu PIB anual desde 1976.
Nos Estados Unidos, a economia passará por um processo semelhante. Para evitar isso, Trump estimou na quinta-feira que os estados menos afetados podem retomar as suas atividades económicas mesmo antes da data mencionada, 1 de maio.
Este anúncio provocou euforia nos mercados asiáticos e europeus esta sexta-feira.
No Japão, cada morador receberá 850 euros como medida para conter o colapso da terceira maior economia do mundo, anunciou o primeiro-ministro, Shinzo Abe.
Países como Espanha e Itália começam a suspender as restrições de circulação e decidem quais as medidas de segurança a aplicar para evitar um novo surto fatal.
A Alemanha, principal economia da Europa, por sua vez, divulgou que a epidemia está "sob controlo".
Segundo dados oficiais, a taxa de infecção pessoa a pessoa caiu para 0,7%, o que abre as portas para relaxar o confinamento.
O país abrirá lojas de menos de 800 metros quadrados na segunda-feira e algumas escolas começarão as aulas a 4 de maio.
A suspensão do confinamento também está em andamento na Dinamarca, que reabriu as suas escolas na quarta-feira; na Áustria, que deseja abrir algumas lojas não essenciais; ou na Suíça, que anunciou uma saída "lenta" e "progressiva" a partir de 27 de abril — um movimento que a Organização Mundial da Saúde "observa com cautela".
Especialistas alertam que a margem é muito estreita. "Não passaremos de preto para branco, mas de preto para cinzento escuro", disse o médico francês Jean-François Delfraissy, principal consultor do governo.
Depois de controlar inicialmente a epidemia, Singapura agora está a registar uma segunda onda de infecções, desta vez forçando o governo a tomar medidas mais severas, como fechar a maioria dos locais de trabalho.
"Provavelmente, por um longo período, é preciso liberar um pouco, limitar novamente, liberar, limitar", explicou Delfraissy.
Para o fim gradual do confinamento, testes diagnósticos maciços serão essenciais.
Mas, além da China, outros países como a Espanha ainda não aperfeiçoaram o seu sistema de contagem: Madrid corrigiu o seu número de mortes devido a discrepâncias regionais, divulgando um total de 19.478 vítimas fatais.
Nesta sexta, o Reino Unido registou 847 novas mortes, com 14.576 no total e 108.692 infecções. O governo prolongou o confinamento na quinta-feira "por pelo menos três semanas".
Na Rússia, 32.008 casos foram registrados até ao momento, e o presidente Vladimir Putin alertou que o país está a correr "riscos muito altos".
O governo russo decidiu autorizar o tratamento com hidroxicloroquina, cuja eficácia é objeto de debate mundial.
Década perdida na América Latina
Na América Latina, a pandemia já causou mais de 4.000 mortes e 85.000 infecções.
A situação é especialmente grave no Brasil, onde são registadas 2.141 mortes e mais de 33.000 infecções, embora o número real de infecções possa ser 15 vezes maior, segundo os investigadores.
O presidente Jair Bolsonaro demitiu na quinta-feira o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor das medidas de isolamento social.
No Equador, outro dos mais afetados da região, com 8.450 infectados e mais de 400 mortes, o Presidente Lenín Moreno reconheceu que o seu país não estava preparado para essa emergência.
As previsões sobre o impacto do coronavírus na economia da América Latina não são otimistas.
A pandemia pode desencadear outra "década perdida", entre 2015 e 2025, alertou quinta-feira Alejandro Werner, diretor do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em África, enquanto isso, a pandemia chegou à marca dos mil mortos por coronavírus, três quartos dos quais na Argélia, Egito, Marrocos e África do Sul, segundo um balanço da AFP.
Nesta sexta-feira, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, alertou que a pandemia poderia apagar o progresso feito nos últimos anos por países pobres, muitos deles na América Latina, África e Ásia.
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