As tropas da Ucrânia entraram na região de Kursk, no sudoeste da Rússia, na manhã de terça-feira, com cerca de mil soldados e vinte veículos blindados e tanques, segundo o Exército russo.

O Ministério da Defesa da Rússia informou hoje que "a operação para destruir unidades do Exército ucraniano continua" com ataques aéreos, foguetes e fogo de artilharia contra tropas que entraram em dois distritos fronteiriços e que enviou reforços para ajudar a "conter tentativas de invasão" ao país.

Tudo indica que esta é a maior incursão fronteiriça da Ucrânia desde que a Rússia lançou a sua ofensiva militar, em fevereiro de 2022.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a Rússia deve "sentir" as consequências do ataque de Kiev, sem mencionar diretamente a incursão, que também não foi citada pelo seu governo.

O conselheiro presidencial ucraniano Mikhail Podoliak destacou que a operação é uma consequência da "agressão" russa contra o seu país, sem reivindicar a ação. "Grande parte da comunidade internacional considera agora que a Rússia é um alvo legítimo para operações de qualquer tipo e com qualquer arma", acrescentou.

Os russos "vieram à nossa terra. Que sintam agora o que as nossas mães e os nossos filhos que lutam sentem, o que é viver e perder os seus filhos", disse a moradora de Kiev Rita Simon à AFP.

Os aliados da Ucrânia mostraram-se surpresos com a incursão. Os Estados Unidos declararam que estão em contato com Kiev para obter mais informações.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) afirmou que "as forças ucranianas fizeram avanços confirmados de até 10 quilómetros na região russa de Kursk".

"A magnitude e localização confirmadas dos avanços ucranianos na região de Kursk indicam que as forças ucranianas violaram pelo menos duas linhas defensivas e um reduto russo", acrescentou o think tank com sede nos Estados Unidos.

O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou o que classificou como uma "provocação em grande escala" por parte de Kiev, e o seu Exército prometeu conter a incursão.

Analistas afirmam que os soldados ucranianos chegaram a Sudzha, uma posição-chave a cerca de 10 quilómetros da fronteira, onde há uma estação que fornece gás à Europa, passando pela Ucrânia.

Esta localidade distribui gás à Eslováquia e Hungria, cujo primeiro-ministro, Viktor Orban, tem boas relações com Putin.

A gigante energética russa Gazprom informou nesta quinta-feira que continua a fornecer gás à estação de Sudzha.

Autoridades de Moscvo afirmaram que a situação é "estável e está sob controlo". No entanto, bloggers militares russos com relações estreitas com o Exército relataram avanços significativos e lamentaram a deterioração da situação.

"A situação é complexa e continua a piorar", disse o bloggers Yury Podolyaka no Telegram, afirmando que Sudzha estava "cheia de soldados ucranianos". "O inimigo ganha posições, o que indica que os combates serão de longo prazo", observou o canal Dva Mayora, conhecido pelo sua proximidade com o Exército de Moscovo.

O canal afirmou que Sudzha está "praticamente sob controlo" das forças ucranianas e que as tropas russas estão localizadas apenas numa rotunda no leste da cidade. Também reportou que os militares ucranianos avançam para a cidade de Korenevo, a mais de 25 km da fronteira, e que contrariamente a outras incursões em território russo por grupos paramilitares relacionados a Kiev, esta é uma operação do Exército ucraniano.

A região de Kursk decretou ontem estado de exceção, o que dá às autoridades o poder de restringir a circulação. Cerca de 3 mil pessoas foram retiradas e ataques cibernéticos deixaram "temporariamente desabilitados" vários serviços, segundo autoridades locais, que acrescentaram que 5 civis morreram e 31 ficaram feridos, incluindo várias crianças.

Os habitantes retirados descreveram uma situação complicada, segundo imagens divulgadas pelo partido russo LDPR, que participa no acolhimento de pessoas deslocadas.

“A situação é ruim. Não há comunicação” com quem ficou, contou Alexei, motorista de ambulância em Sudzha. Um voluntário do mesmo nome disse que as pessoas retiradas se sentem abandonadas.

Na região russa vizinha de Belgorod, duas pessoas morreram e uma terceira ficou ferida hoje em bombardeamentos ucranianos, segundo o governador local. Do lado ucraniano, autoridades reportaram que bombardeamentos russos mataram cinco civis.