Num encontro com órgãos de comunicação da imprensa estrangeira, no qual a Lusa esteve presente, em Brasília, os embaixadores reforçaram que apostam na presidência de portuguesa do conselho da UE para avançar na ratificação do acordo económico entre Bruxelas e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).

"Em todo o lado, em todas os acordos e negociações de cariz ambiental, não temos trabalhado com sanções, mas sim com objetivos, que os países se comprometem a cumprir. Não há sanções no Acordo de Paris, por exemplo. Os acordos comerciais da UE têm essa mesma configuração. Não trabalhamos com a ideia de chegar a sanções, mas promover que as coisas aconteçam em determinado sentido", afirmou o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ibañez.

"Queremos recordar que o comércio é muito importante, mas que não justifica que se comprometam outros ideais da UE, como os direitos humanos, e do meio ambiente, por exemplo. (…) queremos fazer tudo pela sustentabilidade das gerações futuras da UE e dos países do Mercosul", completou Ibañez.

A UE e o Mercosul assinaram o acordo comercial em 2019, após 20 anos de negociações, mas ainda não entrou em vigor e a sua ratificação está paralisada porque países como França, Bélgica, Holanda e Áustria, além do Parlamento Europeu, pedem o reforço das políticas ambientais, principalmente por parte do Brasil, que viu a desflorestação e os incêndios na Amazónia baterem recordes nos últimos dois anos.

Apesar de o Governo brasileiro, presidido desde 2019 por Jair Bolsonaro, referir que o Brasil é exemplo de preservação mundial e acusar nações estrangeiras, como França, de querer colocar em causa a soberania do país sobre a Amazónia, o embaixador de Portugal em Brasília, Luís Faro Ramos, garantiu haver uma mudança de atitude por parte do executivo e "boa vontade" em cooperar.

Contudo, o diplomata português sublinhou que essa mudança deve ser feita amplamente difundida por parte do Brasil e sugeriu que o país sul-americano comunique à Europa todas as iniciativas a que se compromete.

"Nós, efetivamente notamos uma mudança. O ministro dos Negócios estrangeiros português, quando falou com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, detetou essa mudança e essa boa vontade. Agora, se não forem bem comunicadas, não servem para nada. E aí entramos na questão da perceção. É importante que o Governo brasileiro comunique, explique concretamente, o que está a fazer e como pretende comprometer-se com estas metas", disse Faro Ramos.

"Esta é uma parte muito importante da equação. É importante comunicar, para corrigir uma certa perceção de que nada mudou. Uma das nossas sugestões é que a parte brasileira comunique publicamente todas essas iniciativas, para que a perceção que há na Europa possa, de alguma maneira, ser corrigida", acrescentou o embaixador português.

A UE tenta agora que o Brasil firme uma declaração sobre sustentabilidade, para conseguir alcançar a confiança dos estados membros e, assim, que o acordo seja ratificado.

"O Governo brasileiro compreendeu que há uma necessidade de ação, e aí entra a UE, a querer ajudar o Brasil a cumprir esses objetivos, e estamos a preparar essa carta com os compromissos do Brasil, mas também da UE para ajudar o Brasil. (...) Se conseguirmos isso, achamos que vai ser muitos mais fácil chegar aos Governos dos estados membros e explicar que as suas preocupações ambientais são também as nossas preocupações ", explicou Ibañez.

Para isso, a UE conta ainda com a ajuda dos Estados Unidos que, sob a presidência de Joe Biden, admite ter um posicionamento de cooperação e diálogo com o Brasil nas questões ambientais.

"Contamos com a ajuda dos EUA nesse sentido, claramente que sim. Serão uma ajuda muito importante para esta abordagem europeia. (...) A cooperação é muito importante, e é esse o posicionamento que os EUA estão a tomar em relação ao Brasil. O novo Governo norte-americano foi questionado se aplicará sanções ao Brasil, mas respondeu que não. Que o diálogo e cooperação é o sentido a tomar e que leva a melhores resultado", reforçou, por sua vez, o embaixador de Portugal.