Sábado, 4 de agosto de 2018, foi o dia mais quente deste século em Portugal continental. Os valores médios da temperatura máxima, 41,6 graus, e da temperatura mínima, 23,2 graus, foram também os mais altos dos últimos 18 anos. A temperatura máxima do ar mais alta foi de 46,8 graus e registou-se em Alvega, Abrantes.
Em comunicado, o IPMA adiantou que os valores médios da temperatura mínima, que foram superiores a 40 graus em três dias consecutivos (40,1, 40,9, 41,6, respetivamente 2, 3 e 4 de agosto), confirmam o caráter excecional deste episódio de calor em Portugal.
Contudo, recuando no tempo — e olhando para jornais de época — percebe-se que o calor tem sido notícia ao longo dos tempos. Em 1884 já se falava num calor “tão intenso em Portugal que tinha danificado a vegetação”, bem como da “falta de água” em 1919. Já em 1930, “em Lisboa a temperatura subiu como nunca”, falando-se até num “calor tropical” que fez “numerosas pessoas desmaiarem nas ruas”. No mesmo ano — e à semelhança de 2018 — o verão “tardou mas chegou” e isso fez “as alegrias dos cervejeiros” na capital do país. Mas se o verão com altas temperaturas foi noticiado, de fora não ficou a neve em pleno mês de julho, em 1889, na Guarda.
E porque os incêndios também não são notícia de agora, em 1932 registou-se um “violento incêndio na floresta de Sintra, ameaçando as vilas circunvizinhas”. Em 1938 e 1943, as páginas dos jornais também os assinalaram. “A vaga de calor que passou sobre o país nos últimos dias provocou incêndios nas florestas” e “nos campos e nas matas”, havendo também referência a uma “tal violência que ameaça atingir as casas”.
O desespero das populações e a admiração pelos fenómenos verificados também foi sendo referida. Em 1949, a onda de calor em Lisboa “causou tremendo pânico” e “centenas de pessoas desmaiaram nas ruas, principalmente mulheres. Muitas aterrorizadas e julgando que havia chegado o fim do mundo, começaram a rezar”. Em Coimbra, o rio Mondego “ficou seco em várias partes” e “viam-se amontoados milhões de peixes mortos”. Afinal, registaram-se “45ºC à sombra”.
Esta recolha de recortes — com referências que podem parecer bastante atuais — esteve a cargo do responsável da página Torres Vedras Antiga, que prefere manter o anonimato. Ao SAPO24, explica ter recolhido as notícias “através da Biblioteca Nacional do Brasil”, onde costuma procurar “antigas memórias sobre Torres Vedras”.
“Por curiosidade pesquisei sobre o tema. Como seria o clima no verão de outros tempos em Portugal? Ao ler essas notícias antigas — com pelo menos mais de 70 anos — pareceram-me notícias recentes. Algumas coisas melhoraram, mas outras continuam iguais. Achei interessante”, diz.
Quanto à página onde publicou o artigo, conta que tudo começou com um trabalho escolar. “Tinha algumas imagens antigas sobre este concelho e achei interessante criar uma página e partilhá-las. Teve logo uma excelente adesão — para a temática que é — e pensei em criar mais conteúdos sobre o património material e imaterial de Torres Vedras, o que poderá ajudar na preservação dessas ‘antigas memórias’, como lendas, histórias, imagens e vídeos antigos, recordações, curiosidades e figuras torrienses”, começa por explicar. E, com o tempo, começaram a ser “os seguidores da página, de Portugal e de vários lugares do mundo, a ajudar em algumas memórias para publicação”.
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