Alexanda Kotey, um antigo cidadão britânico de 37 anos, tinha-se declarado inocente até esta quinta-feira no tribunal de Alexandria, perto de Washington, juntamente com El Shafee el-Sheikh, de 33 anos, outro dos quatro membros sequestradores do grupo.
São acusados de envolvimento nos assassínios dos jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff, mortos em 2014, e de Peter Kassig e Kayla Mueller, que faziam trabalho humanitário.
O juiz TS Ellis, que presidiu à audiência, vai proferir o veredicto a 04 de Março de 2022. O arguido enfrenta várias penas de prisão perpétua sem direito a libertação antecipada.
Ao declarar-se culpado, Alexanda Kotey celebrou um acordo com o Governo norte-americano para fornecer todas as informações na sua posse sobre as ações na Síria, bem como a qualquer Governo estrangeiro que o solicite.
O acordo prevê igualmente que será extraditado para o Reino Unido após 15 anos de prisão, onde também será acusado de rapto e homicídio de reféns.
O antigo vendedor de artigos desportivos nascido em Londres, onde se radicalizou, falou em inglês.
Explicou, numa declaração, que tinha ido para a Síria para lutar contra o regime do Presidente, Bashar al-Assad, acreditando que "o conceito islâmico de jihad armada era de grande valor e uma causa legítima". Entrou depois para a unidade do Estado Islâmico responsável pelo rapto e detenção de reféns não-muçulmanos.
"Participou num esquema para capturar reféns e exigir resgates, sabendo que estes raptos terminariam, e resultaram, nas mortes" dos reféns, disse o juiz Ellis, parecendo insensível aos argumentos.
As famílias das quatro vítimas norte-americanas estiveram presentes na sala de audiências. O procurador Dennis Fitzpatrick disse que aprovaram o acordo entre o arguido e as autoridades.
Alexanda Kotey e El Shafee el-Sheikh tinham sido capturados em janeiro de 2018 pelas forças curdas sírias e entregues aos militares norte-americanos no Iraque.
Foram extraditados do Iraque para os EUA em outubro de 2020, para enfrentar a Justiça norte-americana.
Londres, que inicialmente não os quis julgar no seu território, retirou-lhes a nacionalidade britânica.
A extradição para os EUA só foi possível depois de as autoridades norte-americanas terem assegurado a Londres que não procurariam obter uma sentença de morte no caso.
Alexanda Kotey e El Shafee el-Sheikh pertenciam à célula apelidada de "Beatles" pelos seus reféns, por causa do sotaque britânico.
Ambos os homens cresceram no Reino Unido, onde se radicalizaram antes da adesão ao Estado Islâmico na Síria em 2012.
São acusados de sequestrar reféns norte-americanos, europeus, japoneses e sírios entre 2012 e 2015, e de torturar e matar as vítimas, inclusive por decapitação. Os vídeos das mortes, divulgados pela Estado Islâmico para fins de propaganda, chocaram o mundo.
Os dois homens terão supervisionado os locais de detenção dos reféns e coordenado as negociações do resgate por correio eletrónico. Eles envolveram-se em "abusos físicos e psicológicos prolongados" dos reféns, disse Fitzpatrick.
O alegado líder da célula, Mohammed Emwazi, apelidado de "Jihadi John", foi morto num ataque aéreo dos EUA na Síria em novembro de 2015, enquanto o quarto "Beatle", Aine Davis, se encontra detido na Turquia, depois de ter sido condenado por terrorismo em 2017.
A operação militar norte-americana em que o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, foi morto em Outubro de 2019 foi designada "Task Force 8-14" em referência ao aniversário de Kayla Mueller.
A jovem trabalhadora humanitária foi raptada em Aleppo, no norte da Síria, em agosto de 2013. Segundo os pais, foi primeiro torturada pelos captores e depois entregue em finais de 2014 a Baghdadi, que alegadamente a violou em numerosas ocasiões antes de a matar.
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