São muitas as versões que pairam no ar sobre as razões que levaram o presidente sul-coreano a ter declarado a lei marcial no seu país. A verdade é que este está perante o mais sério desafio à democracia do país desde a década de 1980.

O que aconteceu?

Ontem, já noite na Coreia do Sul, o Presidente Yoon Suk Yeol declarou que estava a impor a lei marcial, algo que não acontecia há precisamente 45 anos.

A lei marcial foi declarada pela última vez na Coreia do Sul em 1979, depois do assassinato do ditador Park Chung-Hee, num golpe de Estado.

Ontem, porém, esta lei durou poucas horas, pois o presidente foi obrigado a recuar quando o parlamento vetou a sua lei.

Quais as razões apontadas pelo presidente?

Yoon Suk Yeol revelou, no seu discurso, que estava a introduzir um regime militar para salvar o país "das forças obscuras", tendo salientado que a Assembleia Nacional, controlada pela oposição, era um "covil de criminosos" que estava a "tentar paralisar" o governo.

E as 'verdadeiras' razões da declaração?

De acordo com a imprensa local e internacional, esta medida do presidente sul-coreano surge porque Yoon Suk Yeol tem vindo a perder o controlo do poder na Coreia do Sul.

Ganhou as eleições em 2022 pela margem mais estreita da história da Coreia do Sul e já este ano foi derrotado nas eleições parlamentares. Esta última semana também viu a oposição travar o orçamento do próximo ano.

De que o acusam os sul-coreanos?

De instabilidade.

Yoon Suk Yeol tem perdido margem de manobra diante dos seus cidadãos e neste momento, de acordo com as últimas sondagens, apenas 20% seguem ao lado do presidente.

As principais críticas começaram a surgir pouco tempo depois de ter vencido as eleições, nomeadamente no final de 2022, com o episódio da festa de Halloween, em Seul, que matou 159 pessoas.

O envolvimento da sua mulher num escândalo de corrupção também é outro dos temas que assolam diariamente o presidente sul-coreano.

Foi um ato de loucura?

Provavelmente não. Dizem as mesmas fontes que há meses que correm rumores de que Yoon estava a considerar impor a lei marcial e que esta poderia ser uma forma de proteção, com o medo de Yoon em ser processado judicialmente, algo que não seria inédido.

Park Geun-hye, a primeira mulher líder do país, chegou a ser detida por abuso de poder e corrupção. O seu antecessor, Lee Myung-bak, foi também investigado. Outro ex-presidente, Roh Moo-hyun, suicidou-se em 2009, enquanto era investigado por alegadamente ter recebido milhões em subornos.

Os processos são uma arma política neste país e Yoon pode ter-se sentido pressionado e então declarou a lei marcial.

O que vai agora acontecer?

Na Coreia do Sul parece não haver dúvidas que o parlamento vai pedir para que este se demita. O seu ministro da defesa já o fez e alguns meios de comunicação noticiaram que membros do seu próprio Partido do Poder Popular estavam a discutir expulsá-lo.

Os partidos da oposição sul-coreana disseram também ter apresentado uma moção para destituir o presidente.

A verdade é que além do julgamento no parlamento, Yoon será julgado pelo seu povo, que já o vinha a deixar cada vez mais sozinho.