A posição foi hoje expressa pelo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, quando discursava na abertura do seminário sobre autarquias locais, que conta com convidados de Moçambique e Cabo Verde, que vão partilhar, até sexta-feira, as suas experiências.
Isaías Samakuva considerou “muito difícil e por vezes doloroso” o parto das autarquias em Angola, cuja primeira eleição está prevista para 2020.
“Ora dizem-nos não haver condições para realizar eleições autárquicas nos mesmos municípios onde já se realizam eleições gerais. Ora dizem-nos não haver infraestruturas nos mesmos municípios onde já funcionam administrações municipais com gestores públicos que não representam as populações nem prosseguem os interesses públicos locais. Ora dizem-nos não haver recursos nos mesmos municípios onde produz riqueza nacional”, criticou Isaías Samakuva.
Para o líder da maior força política da oposição angolana, “o tempo dos bairros sem saneamento básico, que se tornaram viveiros da malária e da cólera, acabou”, bem como o da falta de escolas “só porque os governantes desviam o dinheiro da educação”.
“O tempo das casas sem água potável canalizada e sem energia para iluminação acabou. O tempo dos administradores de um só partido, não eleitos pelo povo, acabou. O tempo dos roubos institucionalizados e do lixo a céu aberto, à vista de todos, sem pudor nem controlo, acabou”, afirmou.
Segundo o político, este seminário foi programado para preparar os quadros do partido, tendo como principal objetivo alargar a base de conhecimento dos seus dirigentes, com vista a capacitá-los na mobilização dos cidadãos para o seu importante papel no exercício do poder local.
O seminário visa ainda capacitar um grupo de formadores para entender a estrutura orgânica e funcional das autarquias, suas atribuições e competências, regime financeiro e de tutela, à luz do princípio estruturante da autonomia local.
No final do seminário, sublinhou o líder da UNITA, os participantes vão ser capazes de compreender e explicar o papel da política e do cidadão numa democracia e as razões por que todos devem participar na administração dos assuntos públicos locais, articular os papeis associados ao exercício do poder local democrático, traçar estratégias para participar das eleições autárquicas e lançar uma campanha credível, entre outros aspetos.
“Serão capazes ainda de rejeitar com propriedade a noção de gradualismo territorial, na implementação das autarquias locais, identificar armadilhas na legislação proposta e compreender os mecanismos pelos quais o Estado financia as autarquias locais”, disse.
Angola está em fase de preparação das suas primeiras eleições autárquicas, previstas para 2020, tendo as autoridades governamentais submetido à consulta pública um conjunto de diplomas de organização do processo eleitoral, sendo o principal ponto de divergência entre o Governo e os partidos da oposição, a sua instalação de forma gradual.
Na sua intervenção hoje, Isaías Samakuva disse que é “prioridade número um” do seu partido “assegurar a institucionalização efetiva das autarquias obrigatórias, as autarquias municipais, em todo o país, em 2020, como anunciou o Presidente da República e combater a subversão do gradualismo que tem sido pregada dentro e fora do país”.
“Os angolanos todos, de Cabinda ao Cunene, devem ser informados e mobilizados para rejeitar as autarquias do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder] e seu gradualismo distorcido. Queremos as autarquias do povo, sem gradualismo distorcido”, disse.
Comentários