O projeto, intitulado Nautilus, foi desenvolvido por Inês Secca Ruivo, professora no Departamento de Artes Visuais e Design da Escola de Artes da Universidade de Évora (UÉ), e Cátia Bailão Silva, antiga aluna da academia alentejana, revelou a instituição.

Segundo a UÉ, em comunicado, o “sistema de abrigo transportável com capacidade de recolha, aproveitamento e conversão de humidade em água potável” que ambas conceberam foi galardoado, recentemente, no concurso Born from Knowledge (BfK) Ideas 2019, conquistando o 1.º prémio na categoria de Materiais e Tecnologias Avançadas de Produção.

A professora Inês Secca Ruivo, contactada hoje pela agência Lusa, adiantou que este conceito de abrigo de emergência foi desenvolvido no âmbito do Mestrado em Design da antiga aluna Cátia Bailão Silva, sob sua coordenação.

“O projeto tinha a investigação feita, estava desenvolvido conceptualmente e, em 2016, desafiei a Cátia para desenvolver as soluções tecnológicas afetas ao produto, para avançarmos para um pedido de patente”, disse a docente.

A antiga aluna não pôde participar nesta fase, mas Inês Secca Ruivo desenvolveu “toda a componente tecnológica do projeto” e, em 2017, avançou-se para “o registo de patente nacional e europeia pela UÉ, com o nome das duas autoras”, processo esse que se encontra, atualmente, em "fase final” de conclusão.

Este prémio no concurso BfK Ideias 2019, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, através da Agência Nacional da Inovação (ANI), dá “alento”, congratulou-se a professora, realçando tratar-se de um galardão atribuído por “um júri especializado e num contexto exigente”, num concurso em que “participaram 30 instituições de ensino superior”.

Ao mesmo tempo, é “uma oportunidade”, pois, os vencedores, desta e das outras categorias, “têm entrada direta na fase seguinte que é o BfK Rise”, que vai ajudar no “desenvolvimento mais aprofundando e em maior detalhe dos modelos de negócios afetos aos projetos”.

O abrigo de emergência concebido na UÉ tem um sistema fácil de montagem e desmontagem e conta com a incorporação de “um novo material com propriedades hidrófilas e hidrófugas”, ou seja, “permite a coleta, recuperação e conversão de névoa em água, bem como o seu armazenamento, tratamento e transporte para posterior consumo”, segundo a academia.

“A nossa tenda é para deslocados” e estes tanto “podem ser deslocados internos”, como “refugiados, o que implica “passar a fronteira para outro país”, precisou Inês Seca Ruivo, aludindo a dados deste ano da Organização das Nações Unidas (ONU): “Os deslocados internos representam cerca de 60% dos deslocados no mundo e os refugiados são os outros 40%”.

A geometria e estrutura da tenda foram inspiradas “no molusco nautilus”, tendo sido feitos “estudos de soluções naturais que pudessem ser mimetizadas neste caso, em termos de funcionamento, de recolhimento e de exposição”, afirmou, frisando que o abrigo pode ser montado e desmontado “em quatro passos simples, estimados em cinco minutos”.

Quanto ao novo material desenvolvido, as suas propriedades fazem com que consiga “captar e converter a humidade do ar em água e, por outro lado, acelerar o escorrimento dessa humidade para os contentores armazenados dentro da tenda”, um deles “uma garrafa que torna a água potável e pode ser amovível e transportável” e o outro, “no chão, que acumula água para ser utilizada na higiene ou lavagem de alimentos”.

O projeto ainda está a ser desenvolvido e a equipa vai, agora, ser reforçada, com elementos das áreas de Química, Engenharia Mecânica ou Economia e Gestão. Além disso, avançou Inês Secca Ruivo, o objetivo é testar protótipos em ambiente real, junto de organizações que apoiam deslocados, e, mais tarde, decidir então se a opção passa “pela venda da patente ou por outro tipo de parcerias” para colocar o produto no mercado.